Devidamente esclarecida a nova estrutura dos estudos de quarta-feira no Lar Espírita Chico Xavier que substitui o formato tradicional de palestras, vamos relatar hoje a experiência de um estudo específico desenvolvido à luz da Evangelização de Espíritos. Durante o mês de março, ao longo de três noites, diferentes expressões artísticas serviram como recurso para nos ajudar a refletir sobre a humildade, umas das construções íntimas fundamentais do Homem de Bem elencadas por Allan Kardec no Evangelho segundo o Espiritismo.
No primeiro encontro, os cerca de 30 participantes se dividiram em cinco grupos. O evangelizador de Espíritos responsável por cada um teve o papel de estimular o grupo à reflexão sobre o tema a partir de um trecho da canção
Pedro. A letra foi segmentada em cinco partes, de forma que cada agrupamento se debruçou sobre uma parte distinta do belíssimo texto de Gladston Lage musicado por Tim, da dupla Tim e Vanessa. Dentro da proposta de garantir que os estudos sejam uma experiência evangelizadora não só para os participantes, mas, antes de tudo, para os próprios evangelizadores responsáveis, cada um deles assumiu um trecho da música em que sobressaía uma necessidade de aprendizado sua no campo do sentimento.
Após ricas reflexões, entremeadas por depoimentos emocionados e marcadas por grande adesão dos participantes à proposta de reconhecer em si dificuldades semelhantes às vivenciadas pelo líder dos apóstolos, foi hora de artefazer! Reunimo-nos mais uma vez no grande círculo para cantarmos juntos, cada grupo o seu trecho, a canção base dos estudos da noite, encerrando sob intensa vibração a primeira reunião centrada na questão da humildade.
Uma semana depois, procurou-se retomar os mesmos grupos. Desta vez, os evangelizadores incumbiram-se de estimular os participantes a identificar em suas próprias vidas situações recorrentes em que sentiam dificuldade de vivenciar a humildade. Apesar da grande diversidade nos graus de maturidade e facilidade reflexivas entre os participantes, foi incontestável o valor da experiência. Quão poucas vezes somos estimulados, em um ambiente de acolhimento e confiança, a mergulhar em nós mesmos para reconhecer mais claramente as questões que urge trabalhar nesta oportunidade reencarnatória!
Ao fim dos relatos, a arte. Desta vez, o teatro. Cada grupo escolheu um dos depoimentos para representar diante dos demais na forma de uma "foto", uma cena estática. O plano original era que os observadores pudessem refletir e propor como cada cena poderia ser modificada, de forma a dar encaminhamentos ao problema retratado. Uma técnica semelhante ao Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, enriquecida, porém, pela contribuição espírita. Como não havia mais tempo, porém, naquela noite as cenas foram apresentadas e modificadas de forma mais espontânea do que reflexiva, tendo funcionado como um exercício inicial a ser aprofundado no encontro seguinte.
E foi assim mesmo que teve início a última noite de estudos sobre a humildade. Um dos grupos refez a foto para que os demais pudessem observar detidamente a situação retratada. Pouco a pouco iam descortinando o que se passava e propondo mudanças. A orientação dos evangelizadores foi a de que os participantes mantivessem em mente o fato de que só é possível ter plena responsabilidade sobre a mudança a ser feita em nós mesmos. Os que nos cercam, nós podemos estimulá-los a mudar, porém nada garante que haverá uma transformação efetiva. Assim, as mudanças propostas na cena deveriam se centrar na figura da pessoa que havia relatado o caso, que havia compartilhado a dificuldade. Em sua disposição, em sua postura em cena, em sua forma de se relacionar com os demais envolvidos no quadro...
Ao fim das intervenções, os participantes da cena relataram o que sentiram durante o processo, destacando a contribuição da experiência teatral diferenciada para abrir novos horizontes de enfrentamento dos problemas. E para o encerramento dos estudos sobre o tema, todos foram convidados a uma nova vivência com arte. Os participantes foram divididos em dois grupos. Um foi para fora do salão e o outro permaneceu no local.
Para os que ficaram, a instrução foi a de que mentalizassem uma pessoa com quem tinham dificuldade de se relacionar. Em especial, um relacionamento que fosse entravado pelo orgulho. E que imaginassem como seria receber naquele momento especial, naquele ambiente espiritualmente preparado, essa pessoa, disposta a uma reconciliação. Para os que saíram, as orientações foram as mesmas, com a diferença de que eles foram estimulados a se permitir experimentar a iniciativa da reconciliação, repetindo um dos gestos mais marcantes do Cristo... O resultado foi um fechamento impactante, difícil para muitos, mas renovador para todos os que se permitiram vivenciar, por meio da arte, uma nova postura diante de um velho problema...