terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Idéias

Nárnia, Avatar e Deus em nós

Recentemente, tive uma dupla satisfação: a primeira foi terminar de ler o volume único de As Crônicas de Nárnia, de C.S. Lewis, verdadeira obra básica da literatura fantástica universal. A segunda foi assistir no cinema a Avatar 3D, que deverá entrar na seleta lista das produções que servem para dividir a história do cinema em antes e depois delas.

Em comum, ambas mostram mundos paradisíacos localizados fora do nosso, mas igualmente ameaçados pelo desejo de posse dos seres humano. É curioso notar que as histórias foram escritas num intervalo de quase meio século e se desenrolam com uma diferença temporal superior a 200 anos. A de Nárnia se passa na década de 1940. A de Avatar, em 2151. E ambas retratam a mesma incontinência possessiva do homem, capaz de passar por cima de qualquer critério moral para satisfazer a própria gana.

Ao mesmo tempo, as duas narrativas deixam claro que há homens e mulheres dispostos a nadar contra a maré. Capazes de superar as próprias limitações, os condicionamentos culturais, sociais, morais, e sacrificar a própria vida, se for preciso, por aquilo que vale a pena lutar neste ou em qualquer dos outros mundos do Universo.

Tanto em Nárnia quanto em Avatar esses resistentes são pessoas que trazem, de berço ou de algum acontecimento da vida, uma forte ligação com a espiritualidade. É gente que leva a vida à frente, com todos os desafios do cotidiano, sabendo que tudo acontece sob a sábia regência de uma Força Superior. Pessoas que, a despeito de todas as dificuldades, se dispõem a lutar até o limite das forças, se o que está em jogo é a defesa da Vida, da Liberdade, do Respeito e da Dignidade. Se o que está em jogo é a defesa daquilo que É, diante da ameaça de forças que, apesar de transitórias, se apresentam ameaçadoras.

A metáfora com a nossa vida não poderia ser mais perfeita: todos nós que caminhamos sobre a Terra, sozinhos ou em conjunto, não passamos de "forças transitórias". Somos capazes dos atos mais magníficos e também dos mais abjetos. Podemos criar, colaborar, melhorar tanto quanto destruir, degradar e aniquilar o que chega ao alcance das mãos. Mas só até o limite do que a Força Eterna permite.

Àquelas que compreenderam o porquê de estarmos aqui, cabe lutar até a última réstia de energia pelo Valores Imortais. Afinal, a superação da materialidade, da finitude e do apego não vem com lutas esporádicas e pequenas benesses espalhadas a bel-prazer. O objetivo final da existência só se alcança por "aquele que perseverar até o fim". Isso porque ser capaz de chegar até o fim lutando, além da preguiça, da desesperança, da dor e do cansaço, é algo que só alcança quem já age não mais por conta própria, mas movido pelo Sopro Divino, em profunda sintonia com o Criador.

E aqueles que se permitem eclipsar a esse ponto, suplantando interesses pessoais e desejos egocêntricos em prol da ação plena do Eterno, nada têm a temer. Porque quando já não restarem para estes as próprias forças, A Força propriamente dita sempre vem terminar o serviço. Como fez Eywa entre os Na'vi... Como Aslam entre os narnianos ... e como o próprio Deus, ainda e sempre, entre nós!

Para uma reflexão mais detalhada sobre Avatar e Espiritualidade sugiro fortemente este belo artigo no Orkut.

Romário Fernandes

sábado, 16 de janeiro de 2010

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Afinal, onde fica o mundo espiritual?

A pergunta é básica para quem começa a estudar o espiritismo. Uma das primeiras coisas que se aprende é que, na visão espírita, não existem Céu ou Inferno. Mas e aí, o que existe então? A resposta mais comum dá conta de colônias espirituais, umbral, vale dos suicidas dentre outros lugares de além-túmulo.

Num primeiro momento, a tendência é associar os novos nomes às velhas imagens do Paraíso e do Purgatório. À medida que se escuta falar a respeito, a maioria parte para a leitura dos romances mediúnicos. Livros psicografados pelas médiuns Vera Lúcia Marinzeck e Zíbia Gasparetto costumam ser os responsáveis pelas primeiras impressões dos estudiosos da doutrina sobre o mundo espiritual.

Alguns se contentam com essas e outras obras mais simples, a exemplo das assinadas pelo Espírito Luiz Sérgio, enquanto outros partem para romances mais "densos", como os de Chico Xavier, Divaldo Franco e Ivone Pereira. Nos últimos anos, surgiu ainda uma opção alternativa, densa e, segundo alguns, fantasiosa, representada pelas controversas obras de Robson Pinheiro.

O certo é que, apesar das enormes diferenças de narrativa, enredo e profundidade moral/espiritual que há entre os romances mediúnicos, em linhas gerais, existe uma grande semelhança na forma de descrever o funcionamento das coisas do lado de lá.

Espíritos afins tendem naturalmente a se reunir em lugares "construídos" por um processo conhecido como ideoplastia, que permitiria a manipulação de matéria "menos densa" ou "quintessenciada" por parte dos Espíritos. Assim, lemos a descrição de casa, apartamentos, ruas, parques, veículos e uma infinidade de coisas que fazem do mundo espiritual uma versão aperfeiçoada do nosso.

Para a pergunta onde exatamente fica uma cidade espiritual?, há indicações de certa forma precisas, como a de que Nosso Lar ficaria "sobre" a capital carioca. Já para a pergunta e por que ninguém capta a presença dela, os aviões não se chocam, nem ninguém vê com um telescópio?, a coisa começa a complicar. Alguns vão falar que a matéria de que é feita seria "muito sutil", ou que vibraria numa "frequência" diferente ou ainda que seria uma questão de "densidade".

Respostas que tentam ser científicas, mas que passam longe do rigor exigido por esse campo do conhecimento, além de criarem uma série de outros problemas práticos que não vem ao caso discutir agora.

Contudo, tivemos recentemente a oportunidade de assistir a um vídeo muito curioso, que integra o famoso filme What the bleep we know?. E ali sim encontramos uma explicação que parece ao mesmo tempo coerente com a proposta espírita e com o conhecimento científico. Na pior das hipóteses, foi a melhor que já encontramos. Com você, a visita do Dr. Quantum à Planolândia:

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

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Um mito musical da Criação


Havia Eru, o Único, que em Arda [a Terra] é chamado de Ilúvatar. Ele criou primeiro os Ainur, os Sagrados, gerados por seu pensamento, e eles lhe faziam companhia antes que tudo o mais fosse criado. E ele lhes falou, propondo-lhes temas musicais; e eles cantaram em sua presença, e ele se alegrou. Entretanto, durante muito tempo, eles cantaram cada um sozinho ou apenas alguns juntos, enquanto os outros escutavam, pois cada um compreendia apenas aquela parte da mente de Ilúvatar da qual havia brotado e evoluía devagar na compreensão de seus irmãos. Não obstante, de tanto escutar, chegaram a uma compreensão mais profunda, tornando-se mais consonantes e harmoniosos.

E aconteceu de Ilúvatar reunir todos os Ainur e lhes indicar um tema poderoso, desdobrando diante de seus olhos imagens ainda mais grandiosas e esplêndidas do que havia revelado até então; e a glória de seu início e o esplendor de seu final tanto abismaram os Ainur, que eles se curvaram diante de Ilúvatar e emudeceram.

Disse-lhes então Ilúvatar: -
A partir do tema que lhes indiquei, desejo agora que criem juntos, em harmonia, uma Música Magnífica. E, como eu os inspirei com a Chama Imperecível, vocês vão demonstrar seus poderes ornamentando esse tema, cada um com seus próprios pensamentos e recursos, se assim o desejar. Eu porém me sentarei para escutar; e me alegrarei, pois, através de vocês, uma grande beleza terá sido despertada em forma de melodia.

E então as vozes dos Ainur, semelhantes a harpas e alaúdes, a flautas e trombetas, a violas e órgãos, e a inúmeros coros cantando com palavras, começaram a dar forma ao tema de Ilúvatar, criando uma sinfonia magnífica; e surgiu um som de melodias em eterna mutação, entretecidas em harmonia, as quais, superando a audição, alcançaram as profundezas e as alturas; e as moradas de Ilúvatar encheram-se até transbordar; e a música e o eco da música saíram para o Vazio, e este não estava mais vazio.

Assim começou o mundo... Pelo menos, segundo a descrição que abre O Silmarillion, obra póstuma do filologista inglês JRR Tolkien, conhecido na História da Literatura Universal como o autor da saga O Senhor dos Anéis. A obra conta a história resumida do universo tolkieniano, desde a Criação até alguns séculos antes dos eventos narrados em A Sociedade do Anel, primeira parte da trilogia que consagrou o escritor.

O que nos chama a atenção aqui, sem dúvida, é o papel atribuído à Música na Criação. Nesse mito contemporâneo, não se trata da Palavra Criadora a atribuir sentido ao Caos reinante (Fiat lux!). Não temos uma verbalização racional na raiz do Cosmos, mas uma construção coletiva baseada nos sentimentos que o tema poderoso apresentado pelo Criador inspirou nas primeiras criaturas.

Apesar do caráter descentralizado e plural dessa retratação da Gênese, que procura dar conta da diversidade quase infinita das formas, das forças e dos caminhos do mundo, tudo se fez a partir do estímulo do Um e sob Sua suprema coordenação. Impossível não lembrar da referência de Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, à criação da Terra.


Relata o mentor que a gênese terrena foi conduzida por Espíritos designados e orientados por Jesus, representante direto de Deus no planeta. O mais interessante na narrativa de Tolkien é que tudo se fez a partir da ressonância que O Tema teve nas almas dos Ainur. Já pensou, a Divina Motivação de quem se vê incumbido pelo Criador para elaborar e cuidar de um mundo? Um dia a gente chega lá...

De qualquer forma, guardadas as devidas proporções, nada muito diferente do que uma boa composição musical, escrita e interpretada com a alma, pode inspirar noutras almas que tenham oportunidade de partilhar desse momento. Se soubéssemos explorar a contento o potencial dessa ferramenta divina que é a Música... O mundo seria outro!

Pra quem quer saber como continua a história, o link é este aqui.

domingo, 3 de janeiro de 2010

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Um jeito novo de VER Kardec (literalmente)

Sabe aquela história de que às vezes precisa vir alguém de fora pra nos ajudar a ver as coisas do dia-a-dia com outros olhos? Pois foi justamente isso o que aconteceu no último mês de outubro, quando o artista visual italiano Pasquale Giacobelli conseguiu finalizar um curioso trabalho iniciado meses antes: transformar uma pintura de Allan Kardec em imagem tridimensional. O resultado arrebatador que se vê ao lado foi publicado no dia 20 de outubro neste site especializado em computação gráfica. Causou uma avalanche de comentários dos participantes, pela qualidade do acabamento.

O autor, pelo que diz, parece ser um simpatizante do espiritismo. Conhece dados biográficos de Kardec, explica aos integrantes do fórum que ele foi o codificador da doutrina e criador do termo espiritismo, e demonstra afinidade com os princípios espíritas. Escolheu Rivail ao lado de personalidades como Mahatma Ghandi e Nelson Mandela para renderizar em 3D.

Aqui abaixo um passo-a-passo resumido desse belo trabalho. A partir de um retrato típico de Kardec, o artista usou o programa Zbrush para criar esse modelo da cabeça que se vê à esquerda. Depois, ele partiu para a elaboração
da pele, por meio de ferramentas de exposição de luz e cores, além da texturização de materiais.

Essa etapa deu origem a figuras meio fantasmagóricas como essas ao lado. Curiosamente, elas lembram as famosas fotografias das sessões de materialização, as chamadas fotografias espíritas, que a gente discutiu num post recente.

Aí veio o momento de juntar a máscara ao molde. Sabe aquela técnica de transplante de rosto? Funciona mais ou menos assim. Mas nem sempre o resultado fica tão bom quanto este Kardec meio skinhead que se vê abaixo.


Depois, Giacobelli partiu para a questão da roupa, o aspecto mais elogiado e também o mais criticado do trabalho. É que o jaquetão de couro atingiu um grau impressionante de realismo. Todos os comentaristas fazem elogios rasgados à técnica empregada. Mais do que isso, à forma como ela foi aplicada. Teve até um cara lá falando que sentia cheiro de couro só de olhar a imagem...

O problema é a combinação em si. Em termos estilísticos, parece um pouco à frente daquele tempo imaginar Kardec, em meados do século XIX, envergando uma peça que parece típica dos anos 60... Do século seguinte! Em todo caso, desde o princípio, como se pode ver nessa imagem, foi essa a concepção adotada pelo autor.

Por fim, ele fez o acabamento em cores, deu um tônico capilar pra Kardec e concluiu um trabalho que tem tudo pra se popularizar entre os espíritas nos próximos anos...


sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Mais

Um Ano Novo Pai D'Égua!

Ano novo, momento simbólico de recomeçar, repensar e acertar novos rumos para a existência. Começamos essa nova etapa, primeiro dia de uma nova década, com um belo repente de Merlânio Maia, irmão de ideal, poeta e cantador espírita lá da Paraíba. Um texto alegre, descontraído, que fala a linguagem popular do Nordeste e guarda um otimismo contagiante e espiritualizado. Com vocês, Um Ano Novo Pai D'Égua!

Desejo um ano porreta
Deus lhe dê tudo o que quer
Peleja, trabalho, treta,
Os carim duma mulher
Desarrede o negativo
Abufele o positivo
Tenha o horizonte por régua
Num tenha medo da vida
Tenha o céu como medida
E um sucesso pai dégua

Macho véi, felicidade
É pra se pegar de unha
Num aceite a falsidade
Que é onde a maldade acunha
Num se agonie no camim
Nem permita o farnizim
Num esmoreça seje macho
Corra o mundo, ande légua,
E até na baixa da égua
Que o buraco é mais embaixo

Vá anotano os seus querê
Tudo o que você deseje
Dipendure onde se vê
Leia pra que num fraqueje!
Seja um cão chupano manga
Teja de terno ou de tanga
Nunca espere vá buscar
Persistência atrai sucesso
Que vai fazer seu progresso
Quando menos esperar

No amor num se arrelie
Nem só fique arrodiano
Num bata fofo, se avie
Se avexe e faça um bom plano
Mas fique limpo na nota
Num pegue qualquer marmota
Nem viva de fulerage
Cachorro é quem pega peba
Num viva de mistureba
Nas grota da vadiage

Amor é uma corralinda
Mas num seje um farofêro
Num peça pinico ainda
Seja o galo do terrêro
Pastore que a hora chega
Gato gosta é de mantêga
Dê um bote devagar
Mas dêxe as unhas de fora
Que esse seu cabresto tóra
Antes do ovo gorar


Comece o novo ano
Sem os erros do passado
Chô mundiça! É o novo plano
Chame a sorte pro seu lado
Muche as orêia e rebole
No mato tudo que é mole
Grite do alto do nordeste
- Eu sou herdeiro de Deus
Os mundos também são meus
Oxente, cabra da peste!

Agora sim, tás mais forte
Seje feliz dicum força
Nosso Sinhô sendo o norte
Brinque, dance, grite e torça
Nada há de lhe derrubar
Comece logo a sonhar
Com a Paz que nunca dá trégua
O poeta ainda lhe diz
CABRA VÉI, SEJE FELIZ,
E UM ANO NOVO PAI DÉGUA!