quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Um filme que fala ao Espírito...

E finalmente saiu Nosso Lar, o Filme, longa-metragem que criou tanta expectativa quanto (ou até mais do que) a película sobre Chico Xavier! Isso porque, além de ser baseado em uma das obras basilares do espiritismo no Brasil, a obra de Wagner de Assis tinha pela frente o desafio de traduzir em som e imagem um mundo espiritual rico em detalhes e difícil de se visualizar ainda hoje, mesmo para muitos espíritas.


Para tanto, o projeto contou com o orçamento mais caro da história do cinema nacional - R$20 milhões - e efeitos especiais desenvolvidos no Canadá, por uma equipe experiente, com filmes holywoodianos no currículo.

Mas, na minha modesta opinião, o maior desafio de Nosso Lar, o Filme, era transformar o enredo extramemente didático e expositivo de Nosso Lar, o livro, em uma história envolvente, capaz de prender a atenção de um espectador mais interessado em assisitr a um bom filme do que em aprender espiritismo.


Nesse sentido, fiquei satisfeito com o trabalho que assisti ontem no cinema. Nada de arrebatador, extasiante ou especialmente emocionante. Mas uma história verossímil, com personagens humanos, cheios de conflitos e dispostos a superarem as próprias limitações.

Se a proposta da obra literária é "conheça o mundo espiritual pelos olhos de um recém-desencarnado", a versão audiovisual põe em primeiro plano o drama da queda e da redenção de um Espírito que, como a maior parte de nós, viveu no mundo segundo as regras do mundo. Um Filho de Deus que ainda tem uma longa estrada pela frente até ser capaz de deixar que o próprio ego seja ofuscado pela Luz Imperecível da Divindade. E que enfrentou, no retorno à Vida Real, as dificuldades próprias de quem transita nessa condição.


À Direção de Arte e de Fotografia coube o papel de emoldurar com magia e beleza essa história tão espiritual quanto humana. E não posso negar minha satisfação com o resultado obtido. Um filme de belas imagens, de cenários caprichados, capazes de transportar nosso pensamento, ao longo de quase horas, para esferas mais amplas, mais altas do que aquelas a que nos acostumamos, e a que a grande maioria dos filmes produzidos hoje parecem fazer questão de nos manter presos...

Merecem ainda referência: a boa adaptação das falas originais para a boca dos personagens, capaz de manter os sentidos originais sem incorrer no típico erro da transcrição literal de textos que caem bem em livros, mas ficam morosos e cansativos na tela; o desempenho do ator Fernando Alves Pinto, que deu vida a um Lísias mais profundo do que quase todos os outros personagens do filme; e a opção do diretor/roteirista por inserir novos conflitos e aprofundar outros já existentes na trama original, de forma a dar mais vigor e consistência dramática ao longa.


Como disse antes, é possível que Nosso Lar, o Filme não entre para o hall da fama das obras-primas do cinema nacional. Mas, mesmo que não faça jus a estatueta dourada nenhuma, ele cumpre com maestria a função de falar ao Espírito com clareza talvez inédita no cinema. Sem metáforas, duplos sentidos ou mensagens subliminares. Atinge a alma em trânsito na Terra pela via racional, através do texto, e pela via sensorial, através da imagem e do som. Ajuda, por fim, o Espírito reencarnado a se aproximar como nunca da realidade de onde veio e que o aguarda irremediavelmente para colher a safra da colheita que realizou por aqui...

João Romário