terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mais

A Poesia Espírita de Amor

Amor que queima, arde e inflama... Que inspira, encanta e emociona... Amor que dura, abranda e se aprofunda... Amor... Será que há espaço para falar desse, que é o mais universal dos sentimentos, na Arte Espírita? Não falo, é claro, do "amor pela humanidade" ou do "amor fraterno" dos ensinamentos religiosos. A questão aqui é: como o Amor que une duas pessoas por anos, décadas ou existências ganha espaço na literatura influenciada pelo espiritismo? É o que procuramos responder daqui para a frente. Um dos poemas mais conhecidos entre os espíritas chama-se Alma Gêmea. Atribuído ao Espírito de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, ele veio a público no romance histórico Há 2000 Anos. O texto, mais do que polêmico, é este aqui:

Alma gêmea da minh'alma,
Flor de luz da minha vida,
Sublime estrela caída
Das belezas da amplidão!...

Quando eu errava no mundo
Triste e só, no meu caminho,
Chegaste, devagarinho,
E encheste-me o coração.

Vinhas na bênção dos deuses,
Na divina claridade,
Tecer-me a felicidade,
Em sorrisos de esplendor!...

És meu tesouro infinito,
Juro-te eterna aliança,
Porque eu sou tua esperança,
Como és todo o meu amor!

Os problemas, "doutrinariamente falando", são a questão das almas gêmeas e a referência de cunho politeísta, ambas idéias combatidas pelas obras de referência do espiritismo. O poema, obviamente, não é espírita. O autor atribui a autoria do texto a uma personalidade encarnada na época em que Jesus era vivo! Portanto, séculos antes de haver qualquer influência espírita à disposição para inspirar de alguma forma a peça... Mas como se acredita que ela teria sido escrita pelo mentor espiritual de Chico Xavier, enquanto encarnado, como senador romano, a coisa acabou fazendo muito sucesso entre os espíritas. A ponto de ter se tornado um dos grandes clássicos da música espírita, gravado em 1994 pelo Grupo Acorde, da Paraíba. Deu tanto o que falar que suscitou uma resposta por parte de um dos maiores expoentes da música espírita nordestina, o maestro Tarcísio Lima. Sua composição Alma Irmã foi gravada em 2004 pelo Grupo Ame, do Ceará.

Não se pode aprender da noite para o dia
Muito há para vencer: dureza e rebeldia

E no plano inferior a luz a gente adia
Tranformando em grande dor, alma irmã, toda alegria

Por você roguei aos céus, por este lhe fui dado
Meu destino uniu-se ao seu nos passos do passado
Sob as bênçãos do Senhor, com amor acrescentado
Você faz um ser melhor, alma irmã, de um ser malvado

Você me representa a aurora da esperança
Qual anjo, qual criança de todo o mal isenta
Jesus assim me alcança, me ergue e me alimenta

Minha grande pequenês me trai a cada gesto
Mas aumenta, vez e vez, o bem que hoje atesto
Frontes brancas a impor, o tempo anda presto
Seja a paz nosso pendor, alma irmã, no mundo infesto

Nossas almas são afins, pois gêmeas Deus não gera
São idênticas nos fins: vencer na nossa esfera
Dos menores ao maior dos graus da vida vera
Chegaremos ao Amor, o primor da nossa espera

Você, com suavidade, é a luta que eu me imponho
O tom em que componho nossa posteridade
Um avanço no meu sonho de amar a humanidade

Mas para além dos debates doutrinários, há espaço também para expressões de Amor mais livres dentro da Arte Espírita. Formas marcadamente influenciadas pelo espiritismo, sem ter, por isso, que apelar à razão, à argumentação ou à defesa de idéias. Destaco aqui, duas composições gravadas e interpretadas pelo Alma Sonora, do Paraná: O Tempo e a Distância, de 1996, e Ikebana, de 2007. E, de quebra, um poema-bônus, escrito em 2008 por Romário Fernandes, do Ceará, intitulado Constante. Você confere os três textos logo abaixo:

http://espiritodearte.blogspot.com/2008/07/contedo-extra_08.html

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Novas

Mostra Nordeste: Programação

A 1ª Mostra Abrarte Nordeste acontece nos dias 14, 15 e 16 de novembro, em Guaiúba, Região Metropolitana de Fortaleza (CE), com a participação de doze atrações, vindas de quatro estados. A Bahia será representada pela Comunidade Arte e Paz, de Salvador, que abre o evento com o espetáculo Quem tem medo da morte?. Já os potiguares chegam com o Grupo Persona, de teatro, que apresenta a peça Flores de Amor, e com o Coral Paco Horo, ambos de Natal. Pernambuco se faz presente na figura do músico Valdemagno Torres, do Grupo Criarte. E o Ceará leva ao palco de Guaiúba os Grupos Lema (Louco É Tu), Riso de Deus (
Viva e Deixe Viver), Espírito de Arte (Causos Contados e Cantados), Fantasia (Mediunidade É Coisa do Bem), Cantar É Viver e o maestro Tarcísio Lima. Além das apresentações, a Mostra conta com debates e oficinas de aprimoramento técnico. Destaque para a exibição fechada do longa O Diário de um Espírito, com a presença do diretor Glauber Filho. Ainda há tempo de se inscrever para o evento! Basta acessar a página oficial da Abrarte e preencher o formulário. O valor de R$20,00 inclui transporte, alimentação e hospedagem no local da Mostra. Eis a programação completa:

- Sexta (14) à noite:
* Abertura com apresentações abertas ao público (Quem tem medo da morte? [BA] e um grupo cearense a confirmar)

- Sábado (15) de manhã:
* Roda de discussão com o tema A Arte Espírita nos Editais Públicos
(como e por quê disputar incentivos públicos para os trabalhos de Arte Espírita)

- Sábado (15) à tarde:
* Exibição fechada do longa Bezerra de Menezes, o Diário de um Espírito, seguida de debate, com a participação do diretor Glauber Filho

- Sábado (15) à noite:
* Apresentações abertas ao público (Flores de Amor [RN], Causos Contados e Cantados [CE],
Show de Magno Torres [PE] e do Grupo Cantar É Viver [CE])

- Domingo (16) de manhã:
* Oficinas de aprimoramento técnico
a) Ritmo e Expressão Corporal (Claúdio Ivo)
b) Harmonia Aplicada ao Violão (Tarcísio Lima)
c) O Teatro de Bonecos (Aristides Barros)
d) A Percepção de Conjunto na Música (Paula Jucá)

- Domingo (16) à tarde:
* Encerramento e apresentações abertas ao público (Louco É Tu [CE], Viva e Deixe Viver [CE],
Mediunidade É Coisa do Bem [CE], apresentação de Tarcísio Lima [CE] e do coral Paco Horo [RN])

domingo, 12 de outubro de 2008

Mais

A inspiração espírita de Cruz e Sousa

O Espírito de Arte tem mostrado a cada semana a diversidade de impressões que o espiritismo causou nos grandes autores da língua portuguesa, ainda vivos. Seja para ironizar, a exemplo de Machado de Assis, alfinetar, como fez Ariano Suassuna, ou exaltar, opção de Monteiro Lobato, não faltaram escritores de peso que achassem no espiritismo os elementos necessários para produzir literatura de qualidade. Às vezes até superior àquela atribuída a seus respectivos Espíritos de Além-Túmulo...

Dessa vez, vamos falar de um dos maiores poetas simbolistas da literatura universal: Cruz e Sousa. A produção mediúnica atribuída a ele é farta. Inclui pelo menos trinta sonetos psicografados pelo Chico Xavier, mais uma série de textos esparsos, produzidos via médiuns variados pelo Brasil afora. O que pouca gente sabe é da proximidade do Cisne Negro com o espiritismo, que já no final do século XIX ganhava espaço na Ilha do Desterro (hoje Floripa!), terra natal do escritor! Vejamos o que diz o filósofo Evaldo Pauli, da Universidade Federal de Santa Catarina, na Enciclopédia Simpózio, sobre o círculo de amizade de Cruz e Sousa:

Manoel dos Santos Lostada (1860-1923). (...) chegará a Oficial de Gabinete do Presidente Dr. Gama Rosa. Promotor público em Itajaí, logo a seguir. Mais tarde deputado estadual. Poeta. Adere ao espiritismo. Relacionado sempre com Cruz e Sousa, ocupar-se-á dos interesses deste em Santa Catarina quando da doença a morte do mesmo em 1898. Juvêncio de Araújo Figueiredo (1864-1927). Também espírita (...) Quando no Rio de Janeiro, hospedou a Cruz e Sousa em 1890, quando este então para ali também se trasladava. (...) No prefácio de Ascetério lemos um particular interessantíssimo: "Araújo Figueiredo foi o companheiro amigo e o irmão predileto do genial Cruz e Sousa, esse rebelde augusto que as ironias da vida despedaçaram sem poder dar-lhe morte" (Monsenhor Manfredo Leite). O testemunho de Manfredo Leite, nascido em 1876, em Desterro, membro da Academia Paulista de Letras, tem a validade de sua antiguidade e pela convivência tida com Araújo Figueiredo, o bom espírita, venerado como santo pelo povo...

Alguém poderia perguntar: certo, mas e daí? Ser amigo de espíritas não quer dizer lá muita coisa... De fato, não. Mas a influência do espiritismo na vida do poeta não pára por aí. É preciso lembrar que o simbolismo é uma escola literária fortemente influenciada pelo espiritualismo francês. As idéias de Espírito, transcendência e imortalidade estão presentes de forma mais ou menos clara em boa parte dos textos simbolistas. E, no caso de Cruz, essas noções parecem ter ganhado uma inspiração bem específica, ainda segundo Pauli:

Por convenção social de origem João da Cruz e Sousa era católico (...) À medida que passou a tomar posições conscientizadas, suas idéias foram sendo transformadas, para uma visão de síntese discorde da Igreja católica, da qual discretamente se afastou, assumindo uma posição similar a do espiritismo, já então em formação na capital de Santa Catarina. Aliás a doutrina do professor Allan Kardec (1804-1869) se enquadra no espiritualismo eclético francês, do qual foi o ramal espírita, e passou a ser muito lido também no Brasil, graças à então influência da literatura francesa.

Certo, certo, ele estava cercado por espíritas, pensava, em certa medida, como eles, e se afiliava a uma escola literária também influenciada por idéias do espiritismo. Mas e o que tem isso com a produção que o imortalizou como poeta? Bom, separamos logo abaixo três textos dele, um mais conhecido, os outros quase ignorados, que podem dar uma boa idéia de como a visão de mundo espírita influenciou a sensibilidade e a Arte de Cruz e Sousa.

http://espiritodearte.blogspot.com/2008/10/poemas-de-cruz-e-sousa-publicados-na.html


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Novas

Filmes Espíritas: o que vem por aí?

Bezerra de Menezes: o Diário de um Espírito nem tem previsão de deixar os cinemas ainda, e já começam as negociações para os próximos filmes brasileiros de temática espírita. Por enquanto, pelo menos duas produções já estão em andamento.

Uma delas, anunciada em 2006, é a adaptação da biografia As Vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior, para o cinema. O diretor é Daniel Filho, que já descartou dois roteiros por falta de qualidade. O terceiro ficou sob a responsabilidade de Marcos Bernstein, que traz no currículo o longa Central do Brasil. A expectativa era de que as gravações começassem até o fim do ano, com estréia em 2009. Mas, pelo menos oficialmente, não há definição de elenco, nem de locações ainda.

A outra produção que parece bem encaminhada se baseia em Nosso Lar, romance mediúnico mais vendido na história, atribuído por Chico Xavier ao Espírito de André Luís. Há algumas semanas, o comunicador espírita Alamar Régis (PA) tem dito que a Fox Filmes estaria em "parceria" com o ator e diretor espírita Renato Prieto para a realização do longa. Pelo sim, pelo não, recorremos a uma das fontes em busca de uma informação mais precisa. E a resposta foi a seguinte, via site oficial do Prieto:

"Está andando sim, acreditam que começam a filmar entre dezembro e janeiro, produção de uma empresa brasileira x americana... Vou fazer como ator e estou aguardando as ordens... Chamou, fui! Por enquanto, é isto. Abraços"

Cruzando as informações do Renato com as do Alamar, parece que podemos contar sim, em breve, com a adaptação cinematográfica desse clássico da literatura espírita. E comandada pela própria Fox Filmes, que já não tem nenhuma dúvida sobre o potencial dessa temática depois da surpresa que foi Bezerra de Menezes...

domingo, 5 de outubro de 2008

Novas

Arte no Instituto de Cultura Espírita

O VIII Mostr'Arte marcou mais um fim de semana movido a Arte no Movimento Espírita Cearense. O evento integrou a programação da IX Semana Kardeciana do Instituto de Cultura Espírita do Ceará e contou com a participação de vários grupos e artistas. A abertura ficou por conta de um coral infantil da própria casa, que cantou Vinha de Luz, clássico da música espírita local, composto por Francisco Cajazeiras. A seguir, o Teatro de Bonecos Riso de Deus apresentou uma versão adaptada de Viva e Deixe Viver, a peça mais apresentada durante a VI Mostra Brasileira de Teatro Transcendental. Apesar de ser um trabalho direcionado para o público infantil, a peça conquistou pessoas de todas as idades com uma bela trama sobre os conflitos íntimos de um casal.

Logo depois, Expedito Brito e Gleika Veras representaram o Grupo Ame numa apresentação curta, que resgatou Rumo ao Pai, do repertório do grupo. De resto, ficou o anúncio de que o Ame deve voltar à ativa em breve, com uma formação que mescla novatos e veteranos, num total de 12 pessoas... Em breve, você confere aqui mesmo novidades sobre o assunto! Seu Nonato veio em seguida, mostrando com belos poemas qual é que é mesmo a melhor idade!

E como última atração do primeiro bloco, o Espírito de Arte fez uma das melhores apresentações de sua história! No repertório, Rockumbral, mais rock do que nunca; Reparação, canção do GAN com novo arranjo instrumental; Pensamento Sideral, de Douglas Thá, uma das mais belas peças já produzidas pela Arte Espírita; e Hydesville, clássico recente da música espírita brasileira, interpretado assim, com a cara do Espírito de Arte:



Depois, tivemos ainda O Poeta, Tarcísio Lima, que interpretou composições próprias, com a alma de sempre; Francisco Cajazeiras, assumindo a feição poética ao declamar versos doutrinários autorais; e o Grupo AVE, composto por jovens do ICE-CE, com uma bela apresentação teatral que arrematou essa noite espírita de arte no Ceará!