Nada mais cristão, na profundidade da expressão, do que pensar no nascimento de Jesus em nós. Nada mais espírita, na essência da proposta, do que meditar sobre a necessidade constante e crescente de renascermos em Cristo.
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A esse respeito, pondera Bento XVI: "(Pedro) Aceita o convite surpreendente a envolver-se nesta grande aventura: é generoso, reconhece os seus limites, mas acredita naquele que o chama e segue o sonho do seu coração. Diz que sim (...) e converte-se num discípulo de Jesus".
Mas entre aceitar o chamado do Rabi e permanecer nele, sabemos muito bem, pode haver um abismo. Um abismo preenchido pela nossa falta de fé, pela nossa falta de construções íntimas no Bem e pela nossa absoluta falta de hábito no exercício regular da Virtude. Falta tanto, que o abismo se instala quase com a mesma espontaneidade com que a alegria de seguir Jesus nos havia preenchido.
E então? Então vem a hora de enfrentar face a face nossa pequenez. De encarar sem máscaras, nem pudores, o nosso pensamento viciado na ilusão, nosso sentimento condicionado aos ditames do ego e nossa vontade profundamente rasa.
É hora de lidar com nossa pretensão, com a audácia que não raras vezes nos leva a julgarmo-nos aptos a aconselhar a própria Verdade sobre como ela deveria ser. Exatamente como o fez, a certa altura, o próprio Pedro ao, acredite, repreender Jesus! Dizia o Mestre que importava que o Filho do homem padecesse muito, e que fosse rejeitado pelos anciãos e príncipes dos sacerdotes, e pelos escribas, e que fosse morto, mas que depois de três dias ressuscitaria.
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Compreendendo novamente, e com maior profundidade, o que significa se tornar um discípulo de Jesus, não sem melindre, nem contrariedade, Pedro reassume o compromisso anteriormente selado e nos lega mais um exemplo de empenho na edificação íntima da humildade e de perseverança na fé.
Exemplo que, em nossa modesta avaliação, jamais ganhou forma tão expressiva, contundente e comovente quanto na inspirada composição de Gladston Lage e Tim que leva o nome do apóstolo e pode ser vista abaixo. Uma canção que, se não arrebata a alma propriamente aos céus, arrasta-a irresistivelmente ao Caminho por meio do qual se pode chegar à Vida plena: o da entrega total do Espírito ao serviço com o Cristo, para além de todo o personalismo e de todo o interesse próprio, com a Verdade e pelo Bem de todos.