Uma avaliação parcial da Mostra
Três dias e a Mostra Brasileira de Teatro Transcendental mostrou a que veio nessa sétima edição! O espetáculo Entre Deus e Mamon, do Teatro de Bonecos Riso de Deus, se apresenta desde sábado (15) no interior e nos terminais de ônibus da capital. Diversão e alegria garantidos para o público de todas as idades!
Na terça-feira, subiu ao palco principal a peça Valores: a cotação humana, de Brasília. Uma seqüência de monólogos mais ou menos interativos e com forte teor filosófico. A montagem apresenta altos e baixos. Apesar da boa contribuição que traz ao público, com uma proposta de repensar nossas ações diárias, a peça poderia tranqüilamente ser reduzida em mais de 20 minutos!
Ganharia em dinamismo e atratividade, sem perder o foco! Além disso, é preciso explorar mais recursos como luz, corpo e som, como forma de potencializar a força do texto.
Na quarta, foi a vez de O amor jamais te esquece, de São Paulo. Mais uma adaptação de romance épico, no caso, do médium André Luiz Ruiz, atribuído ao Espírito Lucius. Nada de novo no horizonte. A mesma velha transposição da literatura mediúnica para os palcos. Falta a experimentação, falta aproveitar melhor as possibilidades oferecidas pela linguagem teatral, bem diferentes daquelas que marcam o texto puramente literário. Como quase sempre ocorre nesse tipo de montagem, sobra explicação, falta criatividade cênica.
Ontem, por fim, a mais agradável supresa da Mostra, até aqui: Quem tem medo da morte?, dos baianos da Comunidade Arte e Paz. Sobre o espetáculo, vamos direto ao ponto. Compartilho com vocês uma breve resenha que escrevi:
Quem não tem? Quem nunca sentiu? Quem nunca se viu angustiado pela perspectiva do fim? Talvez por isso mesmo não dê pra ficar alheio à humanidade exalada por Quem tem medo da morte? Um texto profundo, que ganha dinamismo na direção bem conduzida de Edmundo Cezar. A cada cena, um novo olhar, a cada esquete uma forma nova de se libertar. Da cegueira, da angústia, das limitações... Da incerteza sobre o porvir, que nos impede de usufruir uma vida plena!
O tom escolhido é de provocação. Clichês sobre o aquém e o além são sucessivamente derrubados pelos três personagens que impulsionam a narrativa. Eles mesmos se revezam nas funções de condutores e vivenciadores da trama. Em conflitos bastante sugestivos sobre as influências invisíveis que nos cercam a cada passo da jornada.
Quem tem medo da morte? propõe à platéia um modo singular de perceber a morte. Sem dogmas, pudores ou receios. Com a espontaneidade de quem caminha sabendo aonde vai chegar. E entende que o amanhã reflete nossas escolhas. Que a morte é um novo princípio. E o nascimento, apenas um recomeço.