quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Idéias

A Arte na Libertação do Homem

Trazemos hoje para o blog uma contribuição e tanto para nossas discussões sobre Arte e Espiritualidade, assinada pela professora Márcia Fusaro, da Universidade Nove de Julho (SP).

A autora é doutoranda em Comunicação e Semiótica, pela PUC-SP, atua profissionalmente como tradutora e parece ter iniciado uma coluna sobre nossa temática central no site do Centro de Estudos Filosóficos Laboratório Evolutivo (Cefle).

Se ela foi além do primeiro artigo, não saberíamos precisar. O certo é que este que se lê abaixo nos chamou suficientemente a atenção para publicá-lo aqui.

Falar sobre arte é sempre uma redescoberta. Refiro-me à boa arte, aquela que toca o homem em sua essência, espelhando a centelha de beleza espiritual presente em cada um.

O bom artista conhece as facetas humanas melhor do que ninguém. Cada atitude, cada gesto, cada consagração e derrota humana é por ele captado e expressado em seu mais íntimo sentido. Mas ao assumir seu papel de revelador da alma do mundo, o artista investe no processo seu mais ousado vigor de "ver além", retratando na arte a emanação do ser, da essência espiritual. Exatamente por isso ele nem sempre é compreendido.

Os grandes artistas, verdadeiros magos da expressão, provam que a sensibilidade aliada ao talento torna possível "dizer o indizível", "alcançar o inalcançável". Espelho da própria busca do ser espiritual.

A arte também traz em si formas de meditação e de contemplação. É um refinamento do espírito e para o espírito. Arte é a manifestação de uma essência primeiro meditada pelo artista, depois expressada em uma forma estética, para então ser contemplada não apenas por seu próprio criador, mas por outros seres buscadores de suas próprias essências.

Quando digo arte, considero as diferentes formas de expressão artística humana, determinadas por uma estética específica, mas voltadas essencialmente à busca de uma transcendência.

Para estrear nossa coluna sobre arte e espiritualidade, ninguém melhor do que o poeta-místico inglês William Blake (1757-1827), um artista para quem a noção de espiritualidade era tão íntima quanto a própria arte.

Sua obra mais importante em prosa The Marriage of Heaven and Hell (O casamento do céu e do inferno) baseia-se nos escritos de Emanuel Swedenborg (1688-1772), outro grande intelectual e místico do século XVIII.

Para Blake, completamente incompreendido e tido por muitos como louco em sua época, o uso da imaginação em contraposição ao cientificismo cada vez mais exarcebado do século XVIII representou a luta artística de toda uma vida. Poeta, artista plástico e, acima de tudo, observador atento do mundo, Blake conseguiu com sua arte contrapor-se a seu tempo, rebelando-se contra o materialismo presente em seus dias. Levado por sua extrema ousadia de artista engajado, chega a declarar na carta ao amigo e intelectual Thomas Butts: "Que Deus nos guarde de ver com um só olho e de dormir o sono de Newton".

Evidentemente que as descobertas de Isaac Newton sobre a Física foram de extrema importância, mudando um quadro teórico que se estendia desde Aristóteles. Mas para o artista rebelde, William Blake, as descobertas da ciência, por mais brilhantes que fossem, não eram suficientes para explicar os processos da natureza e a alma humana, muito mais complexos do que o cientista é capaz de conceber.

Em sua ânsia de romper e de transcender os limites impostos por seu tempo, querendo manifestar-se como espírito livre que era, Blake tenta fazer "caber o infinito na palma de sua mão", e consegue:

Ver um mundo em um grão de areia
E o Paraíso em uma flor silvestre
Segurar o infinito na palma de sua mão
E a eternidade em uma hora

William Blake sabia como ninguém que somente a arte, com sua maior liberdade de expressão, é capaz de tornar possível a manifestação da tendência libertária do espírito. E soube mostrar isso da melhor forma que um artista pode fazê-lo: com sua própria arte.


Márcia C. F. Fusaro

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, parabéns pelo blog!!
Nos idos tempos de faculdade a arte de William Blake me chamou muito a atenção pelo seu lado espiritualista. Desde então minha visão sobre o que podemos representar com arte mudou.
Muy bueno =)