Numa das passagens dos Evangelhos mais desafiadoras à nossa pequenez espiritual, Mateus nos dá a conhecer o ensino de Jesus a respeito da milenar proibição ao adultério contida no Decálogo judaico:
Ouvistes o que foi dito: "Não adulterarás". Eu, porém, vos digo que todo aquele que olha uma mulher para desejá-la, já adulterou com ela em seu coração. (Mt 5, 27 e 28, tradução de Haroldo Dutra Dias)
Se o domínio sobre as próprias ações - externas, visíveis e passíveis do julgamento do outro - já é um grande desafio para muitos de nós, que dizer da disciplina do pensamento? Essa esfera de ação interior que normalmente encaramos como só nossa, como o espaço mais íntimo e pessoal de que dispomos para sermos nós mesmos?
Se há uma parcela da Verdade nessa forma de enxergar as coisas, ela está no fato de que o pensamento realmente revela sem erro aquilo que somos. Sem máscaras, sem pudores ou maquiagens. O erro, porém, começa na suposição de que ela seja realmente "íntima e pessoal".
Aquilo em que pensamos nos põe sempre em determinada zona mental, compartilhada por milhões de outros seres espirituais, irmãos na jornada de aprimoramento de si. Esses pensamentos, somados, entram em ressonância uns com os outros, potencializando efeitos, frequentemente negativos, e aprisionando o Espírito, quando ele não tem o hábito de cultivar a própria Vontade no terreno da Verdade.
Porém, o efeito só costuma ser negativo, inferior, materializado porque assim também costumam ser os nossos pensamentos. Onde colocamos o pensamento, aí se nos desenvolverá a própria vida, explicará o Instrutor Gúbio a André Luiz, numa das obras-primas da psicografia de Chico Xavier, Libertação.
Por isso mesmo, o Espírito que se esforça sinceramente por transformar o pensamento característico que traz, e esse não é um esforço pequeno para nenhum de nós, conta também com o mesmo fenômeno de ressonância mental a seu favor.
Nesse caso, porém, é com os pensamentos superiores que a sua mente vibrará. E as vibrações do Alto, ao contrário daquelas a que estamos mais condicionados, alimentam o Espírito de Esperança, uma Esperança Verdadeira e Progressiva que nos impulsiona para o Caminho da Verdade!
Manter-se sob a influência desse Impulso Superior é um desafio ainda maior, diante da nossa inconstância e do pensamento viciado em certas emoções doentias que ainda carregamos. E aí se faz necessário, ainda e sempre, o desenvolvimento de um "pensamento reflexivo, criando um movimento mental que assegure ao Espírito a capacidade de averiguar como se encontra seu pensamento e qual é a força que a Vontade exerce sobre ele", como propõe a Equipe Eurípedes Barsanulfo na obra mais recente ligada ao trabalho da Evangelização de Espíritos, A Libertação do Espírito.
Temos que aprender a refletir diariamente sobre o que o pensamento tem criado. De forma a não nos iludirmos com o brilho aparente de certas criações mentais, nem nos conformarmos com a estreiteza cinzenta de horizontes em que nossa mente às vezes estaciona e se demora por longos períodos... Assim, seremos pouco a pouco mais capazes de identificar com clareza o que está por trás de nossos pensamentos e a que eles têm dado origem. Pautando-nos mais e mais no exemplo incondicional dAquele que, Antes de Criar, amou com Infinito Amor a Criação...