Supunham os trabalhadores que um tal compromisso viesse a se realizar por meio do eventual retorno de um deles, pernambucano então radicado há mais de 30 anos no Sudeste, à terra natal. Mas, como não houvesse qualquer perspectiva de que isso pudesse acontecer, e diante do surgimento das inúmeras demandas próprias de uma casa espírita nascente, a orientação permaneceu guardada num canto das memórias desses trabalhadores.
Seis anos se passaram, a casa cresceu, o trabalho se consolidou e eis que numa bela sexta-feira de primavera uma dupla de Espíritos encarnados nas longínquas terras do Ceará se vê atraída, por meios improváveis aos olhos humanos, até aquele núcleo de trabalho. Sem qualquer contato prévio com os trabalhos nem com os trabalhadores da casa, à exceção de dois telefonemas para um deles, o casal cearense embarca no ônibus que levaria o coral da casa para o Encontro de Artes que se realizaria na noite seguinte a 450 quilômetros dali, no município de Sacramento.
"Se pudésseis apanhar num golpe de vista a imensidade das relações que ligam uns aos outros os seres, para o efeito de um progresso mútuo, admiraríeis muito mais a sabedoria e a bondade do Criador...", diria o Espírito que assina como Guia Protetor em mensagem de 1862 registrada no Evangelho segundo o Espiritismo. E é justamente uma profunda e agradecida admiração por Deus o que não poderíamos deixar de sentir ao olhar para trás e recordar aquele encontro tão inusitado quanto decisivo para nossas existências.
Se naquele fim de semana as relações que nos ligavam àqueles trabalhadores do Cristo ainda não haviam ficado claras, o véu que permanecia sobre elas viria a se tornar cada vez menos espesso ao longo dos meses seguintes. Até o dia em que Eurípedes, o querido Professor, nos reuniu a todos num momento inesquecível em plena Pedro Leopoldo de Chico Xavier, durante o 7º Fórum Nacional de Arte Espírita.
Dali em diante, a certeza de que nosso lugar era ao lado dos alunos do missionário sacramentano criou bases sólidas em nossas almas. À medida que nos envolvíamos no trabalho, procurando vivenciar intensamente em nossa intimidade a metodologia da Evangelização de Espíritos - pois intensa era a nossa necessidade de educação do pensamento, do sentimento e da vontade - um outro véu ia se dissipando.
O sentido da antiga orientação mediúnica ganhava clareza. Pouco a pouco, com a proximidade da hora de retornarmos ao Ceará, o compromisso do Paz e Harmonia com o Nordeste se materializava diante de todos nós. Para aqueles trabalhadores, era mais uma evidência inabalável do amparo sábio e providencial da Equipe Espiritual Eurípedes Barsanulfo. Para nós, era um propósito firme a nos alimentar o ânimo diante da tristeza pelo afastamento do convívio com almas que tanto nos ensinaram a amar e a servir com Jesus.
As evidências desse amparo foram se mostrando com a mesma concretude para nós também no retorno à ambientação onde aceitamos reencarnar. Tudo aquilo que procuramos fazer - no sentido de compartilhar os processos de renovação íntima que Eurípedes nos tem facultado - fluiu e continua a fluir como se não passasse da execução de um plano minuciosamente arquitetado. Mesmo quando a vontade enfraquece e o pensamento embota, a sinfonia providencial orquestrada pelo Professor não deixa de produzir acordes notáveis, que nos estimulam o restabelecimento para melhor servir aos propósitos que nos trascendem e fazem crescer.
E eis que finalmente, numa bela sexta-feira de primavera, dois anos após aquela outra, quatro duplas de Espíritos encarnados que servem com o Cristo no Grupo Espírita Paz e Harmonia se vêem atraídas pelo compromisso e pela saudade que queima no peito destes que agora escrevem até o Lar Espírita Chico Xavier, o núcleo de trabalho evangelizador de almas localizado em um bairro afastado da capital cearense que Eurípedes escolheu como ponto de partida para o desenvolvimento de seu projeto no Nordeste do Brasil.
De forma clara, envolvente e notavelmente inspirada, aqueles oito jovens e adultos partilharam conosco, ao longo de três dias, o banquete de sua própria renovação íntima sob a orientação do Professor. Falaram sobre o compromisso do Espírito Eurípedes Barsanulfo com a Educação do Espírito, esclareceram a natureza metodológica espírita da Evangelização de Espíritos, explicitaram quais os recursos que ela propõe para a realização da tarefa evangelizadora, abordaram a importância da compreensão sobre o Ser Espiritual que somos e destacaram aspectos fundamentais do entendimento do planejamento reencarnatório para o Espírito.
Para além disso, nos ofereceram a oportunidade de vivenciar a aplicação em nós mesmos de dois recursos particularmente importantes para o processo de evangelização da alma: a Arte e a Natureza. O primeiro em uma sequencia envolvente de estímulos à reflexão sobre nossa trajetória espiritual passada, presente e futura, recorrendo à dança, ao teatro e ao desenho para melhor expressar e compreender os sentimentos que trazemos.
O segundo em uma oportunidade inédita para a maior parte dos cearenses participantes de lidar com a Natureza como meio para a percepção sobre si. Revolvemos a terra da casa espírita e adubamos os canteiros para plantar e regar ixoras (ou mini-lacres) vermelhas e amarelas, de cores quentes como é o Ceará, e também jasmins, espécies do mesmo gênero das flores mais apreciadas por Eurípedes e que até hoje adornam o prédio do Colégio Allan Kardec...
Ao fim do trabalho, aqueles oito pioneiros tiveram que retornar para a ambientação e para os compromissos que assumiram para esta existência. Mas deixaram no Lar Espírita Chico Xavier um belo jardim de plantas e almas embebidas nas vibrações de Esperança que o poderoso Sol da Verdade há de fazer crescer e florir sob as bênçãos de Jesus e a orientação de Eurípedes!
Bruna e João Romário
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