Um mito musical da Criação
E aconteceu de Ilúvatar reunir todos os Ainur e lhes indicar um tema poderoso, desdobrando diante de seus olhos imagens ainda mais grandiosas e esplêndidas do que havia revelado até então; e a glória de seu início e o esplendor de seu final tanto abismaram os Ainur, que eles se curvaram diante de Ilúvatar e emudeceram.
Disse-lhes então Ilúvatar: - A partir do tema que lhes indiquei, desejo agora que criem juntos, em harmonia, uma Música Magnífica. E, como eu os inspirei com a Chama Imperecível, vocês vão demonstrar seus poderes ornamentando esse tema, cada um com seus próprios pensamentos e recursos, se assim o desejar. Eu porém me sentarei para escutar; e me alegrarei, pois, através de vocês, uma grande beleza terá sido despertada em forma de melodia.
E então as vozes dos Ainur, semelhantes a harpas e alaúdes, a flautas e trombetas, a violas e órgãos, e a inúmeros coros cantando com palavras, começaram a dar forma ao tema de Ilúvatar, criando uma sinfonia magnífica; e surgiu um som de melodias em eterna mutação, entretecidas em harmonia, as quais, superando a audição, alcançaram as profundezas e as alturas; e as moradas de Ilúvatar encheram-se até transbordar; e a música e o eco da música saíram para o Vazio, e este não estava mais vazio.
Assim começou o mundo... Pelo menos, segundo a descrição que abre O Silmarillion, obra póstuma do filologista inglês JRR Tolkien, conhecido na História da Literatura Universal como o autor da saga O Senhor dos Anéis. A obra conta a história resumida do universo tolkieniano, desde a Criação até alguns séculos antes dos eventos narrados em A Sociedade do Anel, primeira parte da trilogia que consagrou o escritor.
O que nos chama a atenção aqui, sem dúvida, é o papel atribuído à Música na Criação. Nesse mito contemporâneo, não se trata da Palavra Criadora a atribuir sentido ao Caos reinante (Fiat lux!). Não temos uma verbalização racional na raiz do Cosmos, mas uma construção coletiva baseada nos sentimentos que o tema poderoso apresentado pelo Criador inspirou nas primeiras criaturas.
Relata o mentor que a gênese terrena foi conduzida por Espíritos designados e orientados por Jesus, representante direto de Deus no planeta. O mais interessante na narrativa de Tolkien é que tudo se fez a partir da ressonância que O Tema teve nas almas dos Ainur. Já pensou, a Divina Motivação de quem se vê incumbido pelo Criador para elaborar e cuidar de um mundo? Um dia a gente chega lá...
De qualquer forma, guardadas as devidas proporções, nada muito diferente do que uma boa composição musical, escrita e interpretada com a alma, pode inspirar noutras almas que tenham oportunidade de partilhar desse momento. Se soubéssemos explorar a contento o potencial dessa ferramenta divina que é a Música... O mundo seria outro!
Pra quem quer saber como continua a história, o link é este aqui.
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