sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

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Um mito musical da Criação


Havia Eru, o Único, que em Arda [a Terra] é chamado de Ilúvatar. Ele criou primeiro os Ainur, os Sagrados, gerados por seu pensamento, e eles lhe faziam companhia antes que tudo o mais fosse criado. E ele lhes falou, propondo-lhes temas musicais; e eles cantaram em sua presença, e ele se alegrou. Entretanto, durante muito tempo, eles cantaram cada um sozinho ou apenas alguns juntos, enquanto os outros escutavam, pois cada um compreendia apenas aquela parte da mente de Ilúvatar da qual havia brotado e evoluía devagar na compreensão de seus irmãos. Não obstante, de tanto escutar, chegaram a uma compreensão mais profunda, tornando-se mais consonantes e harmoniosos.

E aconteceu de Ilúvatar reunir todos os Ainur e lhes indicar um tema poderoso, desdobrando diante de seus olhos imagens ainda mais grandiosas e esplêndidas do que havia revelado até então; e a glória de seu início e o esplendor de seu final tanto abismaram os Ainur, que eles se curvaram diante de Ilúvatar e emudeceram.

Disse-lhes então Ilúvatar: -
A partir do tema que lhes indiquei, desejo agora que criem juntos, em harmonia, uma Música Magnífica. E, como eu os inspirei com a Chama Imperecível, vocês vão demonstrar seus poderes ornamentando esse tema, cada um com seus próprios pensamentos e recursos, se assim o desejar. Eu porém me sentarei para escutar; e me alegrarei, pois, através de vocês, uma grande beleza terá sido despertada em forma de melodia.

E então as vozes dos Ainur, semelhantes a harpas e alaúdes, a flautas e trombetas, a violas e órgãos, e a inúmeros coros cantando com palavras, começaram a dar forma ao tema de Ilúvatar, criando uma sinfonia magnífica; e surgiu um som de melodias em eterna mutação, entretecidas em harmonia, as quais, superando a audição, alcançaram as profundezas e as alturas; e as moradas de Ilúvatar encheram-se até transbordar; e a música e o eco da música saíram para o Vazio, e este não estava mais vazio.

Assim começou o mundo... Pelo menos, segundo a descrição que abre O Silmarillion, obra póstuma do filologista inglês JRR Tolkien, conhecido na História da Literatura Universal como o autor da saga O Senhor dos Anéis. A obra conta a história resumida do universo tolkieniano, desde a Criação até alguns séculos antes dos eventos narrados em A Sociedade do Anel, primeira parte da trilogia que consagrou o escritor.

O que nos chama a atenção aqui, sem dúvida, é o papel atribuído à Música na Criação. Nesse mito contemporâneo, não se trata da Palavra Criadora a atribuir sentido ao Caos reinante (Fiat lux!). Não temos uma verbalização racional na raiz do Cosmos, mas uma construção coletiva baseada nos sentimentos que o tema poderoso apresentado pelo Criador inspirou nas primeiras criaturas.

Apesar do caráter descentralizado e plural dessa retratação da Gênese, que procura dar conta da diversidade quase infinita das formas, das forças e dos caminhos do mundo, tudo se fez a partir do estímulo do Um e sob Sua suprema coordenação. Impossível não lembrar da referência de Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, à criação da Terra.


Relata o mentor que a gênese terrena foi conduzida por Espíritos designados e orientados por Jesus, representante direto de Deus no planeta. O mais interessante na narrativa de Tolkien é que tudo se fez a partir da ressonância que O Tema teve nas almas dos Ainur. Já pensou, a Divina Motivação de quem se vê incumbido pelo Criador para elaborar e cuidar de um mundo? Um dia a gente chega lá...

De qualquer forma, guardadas as devidas proporções, nada muito diferente do que uma boa composição musical, escrita e interpretada com a alma, pode inspirar noutras almas que tenham oportunidade de partilhar desse momento. Se soubéssemos explorar a contento o potencial dessa ferramenta divina que é a Música... O mundo seria outro!

Pra quem quer saber como continua a história, o link é este aqui.

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