Por trás do Parnaso de Além-Túmulo
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Charlatanismo, inconsciente ou mediunidade? Qual das três hipóteses explica melhor o fenômeno Parnaso de Além-Túmulo? Lançada em 1932, a antologia poética entrou para a história como o primeiro de mais de 400 livros atribuídos à psicografia de Chico Xavier. "...em consciência, não posso dizer que são minhas, porque não despendi nenhum esforço intelectual ao grafá-las no papel", escreveria o médium um ano antes, afastando de si qualquer mérito pela autoria dos textos.
Originalmente eram 60 poemas, que traziam assinatura de 14 autores lusófonos. Ao longo das edições seguintes foram-se incorporando mais e mais textos, até que na sexta (1955) o livro chegou à formatação final: 259 poemas e 56 autores. De Castro Alves a D. Pedro II, há versos de todo tipo, freqüentemente tratando de temas espirituais, morais ou religiosos. Que repercussão teve a obra? Vejamos alguns exemplos, extraídos do mais completo trabalho sobre o tema feito até hoje, A poesia transcendente de Parnaso de além-túmulo, de Alexandre Caroli.
Humberto de Campos, à época já ocupante da cadeira de Joaquim Manuel de Macedo na Academia Brasileira de Letras, "resume o tipo de comentário feito pelos intelectuais da época que se pronunciaram sobre o tema", nos dizeres de Caroli:
Eu faltaria, entretanto, ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pela pena do sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e de expressão que os identificavam neste planeta. Os temas abordados são os que os preocuparam em vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos.
Monteiro Lobato, por sua vez, afirmou: Se o homem realmente produziu por conta própria tudo o que vem do ‘Parnaso’ então ele pode estar em qualquer Academia, ocupando quantas cadeiras quiser...
Enquanto isso, o fundador da Academia Rio-Grandense de Letras, Zeferino Brasil, sentenciava: ou as poesias em apreço são de fato dos autores citados e foram realmente transmitidas do Além ao médium que as psicografou, ou o Sr. Francisco Xavier é um poeta extraordinário, genial mesmo, capaz de produzir e imitar assombrosamente os maiores gênios da poesia universal.
Apesar de todos as avaliações positivas, é claro que a obra passa longe de qualquer unanimidade. Outros analistas apontam a ocorrência de versos pobres, construções simplórias e sonetos mal-formulados. Uma das críticas mais corriqueiras foi sintetizada em 1971, na Revista Realidade, pelo crítico literário Léo Gilson Ribeiro: Uma coisa é clara: Quando o 'espírito' sobe, sua qualidade desce. É inconcebível que grandes criadores de nossa língua, depois da morte fiquem por aí gargarejando o tatibitate espírita.
Exagero ou não, o fato é que muitos textos atribuídos a escritores mortos parecem meio passados mesmo. Se em alguns a semelhança é gritante, a exemplo de Augusto dos Anjos e Guerra Junqueiro, noutros a diferença não deixa de falar tão alto quanto... Vide os sonetos do Alberto de Oliveira mediúnico, bem distantes da perfeição técnica que notabilizou o parnasiano. Ou mesmo os atribuídos a Antero de Quental, com construções bem mais simplórias do que aquelas que marcaram o estilo do poeta português.
Sem a pretensão de encerrar o debate, deixamos aqui apenas um dos sonetos do Parnaso para análise. Chama-se Jesus ou Barrabás?, e traz a assinatura do Príncipe dos Poetas, Olavo Bilac. Se é dele mesmo, não podemos dizer. Mas que se trata de uma das mais belas peças já atribuídas a Espíritos, ah, se trata! É só clicar aqui!
Um comentário:
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