O Universal e o Eterno na Arte Espírita
Fizemos algumas semanas atrás uma observação filosófica em defesa de um certo “humanismo transcendental". Defendíamos a possibilidade do grandioso na arte que é criada pelo próprio Espírito do espírita ou de quem quer que seja. Isto é, defendíamos que uma arte divina não necessariamente deve ser mediúnica. Ou ainda, que o animismo do médium na obra de arte não é, necessariamente, ruído de comunicação.
Nossa! Quanto palavreado confuso! Mas a coisa é simples... se não simples, fabulosa:
Ficamos encantados com as obras mediúnicas e conferimos beleza e verdade a elas pelo simples fato de serem mediúnicas. É uma tendência quase natural para os devotos do espiritismo esse posicionamento. Aliás, o devotamento tem esse quê de gratuito. O sagrado (é sagrado tudo aquilo que na Terra se reveste de Além) sempre mereceu de nós uma postura acrítica e cegamente respeitosa.
Entretanto, quando Allan Kardec surgiu, duvidando do maravilhoso numa pilhéria que ficou sagrada, desafiando as mesas girantes, ele começou uma jornada que culminou numaaproximação do humano com o divino e do divino com o humano numa conclusão muito simples: todos os Espíritos que habitam o espaço invisível são da mesma natureza que os que estão enredados na carne. Por isso nem todos são puros, mas todos poderão vir a ser. Todos são todos! São as potencialidades, então, que tornam todos os seres iguais em direito, em beleza e em verdade.
Com essa simples conclusão, Kardec encontra a chave que une a Terra ao Céu! Um processo tão fecundo que o deixou admirado com as possibilidades de uma proposta artística baseada na idéia, que deixasse se conduzir por ela.
A arte que prima por ser espiritual e catequética, isto é, doutrinária, é uma arte medieval, onde a única importância reside na revelação da palavra de Deus, sempre para além do que é material. A arte que se restringe sempre ao material, ao presente, ao mortal, é uma arte secular que passa na medida em que passam seus autores. A arte espírita, Kardec havia previsto que ela ultrapassaria todas as outras, porque síntese dialética delas. O elemento mediúnico, ou ainda, o reencarnacionista, ou numa palavra, aquele elemento que costura repetidamente as muitas vidas do universo, a arte que se utilizasse dele ganharia o que toda boa arte quer: o universal e o eterno.
Como fazer isso? Como a mediunidade ou mesmo a reencarnação contribuem para essa questão?
Elas são os modelos melhores para a fabricação dessa arte – da forma como o Espiritismo as encara.
Não basta o Espírito imaterial, deve haver o Espírito intermediário na carne para haver a obra transcrita, pintada, falada, o que for. Não basta a vida na carne, é preciso a vida fora dela, numa comunicação constante entre as vidas para que ambas possam se enriquecer em um progressão infinita.
A mediunidade nunca é um monólogo transcendental, ela é um diálogo entre o que é transcendente e o que é contingente, o que sempre foi com aquilo que ainda é. A reencarnação, por sua vez, promove a solidariedade, dentro de um mesmo indivíduo, entre o passado, o presente, e as possibilidades de futuro. Somos, assim, médiuns e reecarnantes, uma obra de arte criada por Deus, que dialoga, caminha, vive e constrói coletivamente seus próprios caminhos, sua própria Arte.
A Arte Espírita, portanto, vai além do que costumamos pensar que ela é!
Allan Denizard
3 comentários:
Caro blogueiro-confrade,
Saindo da Arte (macro) e indo pro micro, gostaria de saber porque a imensa maioria das músicas espíritas compostas são melancólicas?
Nada contra músicas de ritmo e melodias introspectivas, mas tenho que concordar com Nelson Motta (opinando sobre a música pseudo-sertaneja) e trazer pro universo dos compositores espíritas. Eis:
"Os critérios para avaliar uma música popular são melodia, letra, ritmo e harmonia. O sertanejo é praticamente zero em todos os quesitos. Reconheço até que o gênero tem alguns intérpretes de grande talento, que sabem cantar, mas as melodias são pobres e as letras são paupérrimas. O ritmo é praticamente inexistente, são baladas melancólicas. Em termos de harmonia, o ritmo (sertanejo) é indigente. Sobra muito pouco para o meu gosto, mas não quero convencer ninguém, só falo o que acho."
Paz e Bem!
Grande Jânio! Saiba que nós do Espírito de Arte compartilhamos dessa mesmíssima impressão! E, por isso mesmo, optamos por uma linha de trabalho diferente. Já há algum tempo temos rock e country no repertório e, em muito breve, xote, samba, moda de viola, além de outros ritmos mais animados e envolventes. Até hip-hop pode entrar na jogada... Mas, apenas a título de curiosidade, sugiro desde já que você conheça o trabalho de grupos como GAN e Alma Sonora... Vou lhe mandar o link por e-mail! Abraço!
Valeu, Romário!
Há também um grupo CANTAR É VIVER (salvo engano do Álvaro Weyne) que tem umas composições e forma de apresentar a mensagem espírita bem prá cima e que gostei muito no Paz e Bem!
Espero os links.
Soube deste blog pelo Nonato Albuquerque quando lhe disse que o Paz e Bem também já tem o seu e lá nós colocamos o Espírito de Arte, como um dos indicados.
Se quiser conhecer é gepazebem.blogspot.com
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