Arte espírita até bem pouco tempo atrás era sinônimo de doutrinação e simploriedade, salvo algumas honrosas exceções. Era um ou outro grupo teatral, um ou outro compositor capazes de produzir uma arte ao mesmo tempo antenada com o mundo de hoje e inspirada numa vivência espírita. Mais raro ainda era encontrar quem se dedicasse à produção de algo arrojado, capaz de entrar no mercado e disputar espaço de igual pra igual com a "arte secular".
O DVD da Comebh, que ainda não tivemos oportunidade de assistir na íntegra, parece ser uma coletânea do cancioneiro espírita mineiro. As canções são muito bem executadas e arranjadas, sem dúvida. E o resultado é um trabalho de qualidade sonora e visual, a ser apreciado ainda pelos espíritas de todo o mundo. Mas talvez essa seja a grande diferença conceitual em relação ao Arte Nascente: o público-alvo. As músicas do COMEBH 25 Anos a que assistimos dificilmente conquistariam um público não-espírita, por trazerem muito forte a marca do hino religioso. Letras de adoração e louvor, versos com inversões para rimar... Melodias que lembram de pronto o hinário cristão. Um repertório que até poderia ressoar também num público carismático, católico ou evangélico. Mas que tem pouca chance de arrebatar a grande massa de pessoas sem engajamento religioso...
A musicalidade envolve. E direciona o público segundo um plano muito bem traçado. O show começa a la anos 70, com Alegre Evolução e aquela galera vestida de Nos Embalos de Sábado à Noite. A seguir Busca mantém o clima disco, que vai se dispersando com a balada
Do meio pro fim, o DVD é predominantemente pra cima, com espaço para o rock, o pop e o reggae. Provando, a cada faixa, que é possível sim fazer uma Arte Espírita envolvente, que fale uma linguagem atual e leve o espiritismo sem pregação. Sem dúvida alguma, um salto adiante na consolidação dessa arte ainda nascente que os espíritas estamos aprendendo a fazer!
Romário Fernandes