segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Idéias

Por uma Arte Nascente...

Arte espírita até bem pouco tempo atrás era sinônimo de doutrinação e simploriedade, salvo algumas honrosas exceções. Era um ou outro grupo teatral, um ou outro compositor capazes de produzir uma arte ao mesmo tempo antenada com o mundo de hoje e inspirada numa vivência espírita. Mais raro ainda era encontrar quem se dedicasse à produção de algo arrojado, capaz de entrar no mercado e disputar espaço de igual pra igual com a "arte secular".

O DVD Arte Nascente do GAN (GO), lançado em 2008, trouxe uma reviravolta nesse panorama. Não foi o primeiro trabalho musical espírita lançado em DVD (vide o COMEBH 25 Anos), nem o primeiro a utilizar uma linguagem contemporânea (vide Moacyr Camargo, Flávio Fonseca, Alma Sonora e o próprio GAN). Mas talvez tenha sido pioneiro em reunir as duas características, essenciais para alavancar a Arte Espírita no panorama nacional.

O DVD da Comebh, que ainda não tivemos oportunidade de assistir na íntegra, parece ser uma coletânea do cancioneiro espírita mineiro. As canções são muito bem executadas e arranjadas, sem dúvida. E o resultado é um trabalho de qualidade sonora e visual, a ser apreciado ainda pelos espíritas de todo o mundo. Mas talvez essa seja a grande diferença conceitual em relação ao Arte Nascente: o público-alvo. As músicas do COMEBH 25 Anos a que assistimos dificilmente conquistariam um público não-espírita, por trazerem muito forte a marca do hino religioso. Letras de adoração e louvor, versos com inversões para rimar... Melodias que lembram de pronto o hinário cristão. Um repertório que até poderia ressoar também num público carismático, católico ou evangélico. Mas que tem pouca chance de arrebatar a grande massa de pessoas sem engajamento religioso...

O que o GAN conseguiu fazer foi justamente transpor essa barreira. O repertório, mesmo quando fala de Jesus, passa longe da tradicional pregação religiosa. As letras são jovens, sem floreios e lembram antes de tudo o estilo dos compositores do Pop Rock brasileiro. A exceção, talvez seja o clássico Nova Luz, que não abre mão do sermão evangélico nem da sonoridade de hino. Mas acaba "redimido" pelo arranjo magistral composto e executado pelo maestro Paulo Rowlands com um quarteto de cordas. No geral, o repertório parece até despretensioso, mas traz um conteúdo forte, humano e universal, sem deixar de ser espírita.

A musicalidade envolve. E direciona o público segundo um plano muito bem traçado. O show começa a la anos 70, com Alegre Evolução e aquela galera vestida de Nos Embalos de Sábado à Noite. A seguir Busca mantém o clima disco, que vai se dispersando com a balada de Eu Venci e o rock de Subindo até Você. Aí chega o momento mais intimista, com Sou seu Anjo, Tudo É Amor, Reparação e a apoteose de Nova Luz, que termina soando como alguma peça de Mozart.

Do meio pro fim, o DVD é predominantemente pra cima, com espaço para o rock, o pop e o reggae. Provando, a cada faixa, que é possível sim fazer uma Arte Espírita envolvente, que fale uma linguagem atual e leve o espiritismo sem pregação. Sem dúvida alguma, um salto adiante na consolidação dessa arte ainda nascente que os espíritas estamos aprendendo a fazer!

Romário Fernandes

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Novas

Revista Espírita Internacional discute Arte Espírita

A primeira edição da octogenária Revista Internacional de Espiritismo em 2009 abriu um espaço pioneiro para as discussões sobre Arte Espírita. Nos últimos anos, a publicação já havia noticiado eventos artísticos espíritas e até abrigado reflexões sobre educação espírita que tangenciavam o assunto Arte, como se pode ver aqui. Mas com o artigo O que é Arte Espírita?, que dialoga com as idéias do filósofo russo Léon Tolstói, o debate se lança sobre a própria concepção do que é Arte. Uma reflexão mais profunda e que poucos espíritas fizeram até hoje de forma sistemática ou fundamentada.

Eis aqui a provocação central do artigo: (...) a técnica artística utilizada pelos espíritas tem dado origem a obras de arte? Para fazer música, basta saber jogar com melodia, harmonia e ritmo (a letra é um elemento opcional, mas muito valorizado na música religiosa). Para fazer poesia, métrica, rima e ritmo dão conta do recado. O teatro exige ator, platéia e uma idéia, enquanto a dança demanda corpo e ritmo. Qualquer um pode executar com maestria esses ofícios, desde que resolva se dedicar com afinco ao estudo e à prática deles. É uma simples questão de exercício, prático e intelectual.

Mas há uma enorme distância entre ser músico, poeta, ator ou dançarino e ser artista. Pessoas que dominam essas atividades essencialmente técnicas podem produzir e executar inúmeros trabalhos movidos pelo desejo de vender idéias, ganhar dinheiro ou chocar pessoas, sem que haja um único sentimento sincero por trás dessa iniciativa. Conseguem produzir beleza, mas nem sempre arte. Do mesmo modo, homens e mulheres sem a menor noção teórica podem produzir autênticas obras de arte. Basta darem vazão ao que sentem através de sons, gestos, formas e traços compreensíveis para sensibilizar e até emocionar outras pessoas. Sua arte sincera toca, independente da preocupação estética.

De modo geral, os trabalhos que se propõem a ser arte espírita não pecam por falta de conteúdo. O equívoco parece estar na natureza desse conteúdo. Em lugar de um sentimento sincero, humano e, por isso mesmo, universal que o autor deseje compartilhar, há idéias e crenças particulares que ele quer divulgar...

O artigo, que reflete em linhas gerais a opinião do Grupo Espírito de Arte sobre o tema, pode ser encontrado na edição nº 1 de 2009 da RIE. Ela pode ser comprada em bancas ou através do site oficial da Casa Editora O Clarim. Bom proveito!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A Questão Espiritual em Harry Potter - Parte 2

Falávamos há algumas semanas sobre a espiritualidade no maior clássico contemporâneo da literatura infanto-juvenil. Esboçamos as primeiras linhas de uma teoria espiritualista potteriana, a partir de dados fornecidos pela própria obra: a certeza na imortalidade da alma; as possibilidades concretas de contato entre quem "se foi" e quem permanece vivo; e a curiosa condição dos fantasmas naquele universo.

É inclusive o mais interativo deles quem explica a Harry que "muito poucos bruxos escolhem esse caminho", a saber, o de se tornar um fantasma. Mas por quê? Porque, de modo geral, os bruxos preferem "seguir". "Eu tinha medo de partir. Escolhi ficar para trás. Às vezes penso se não deveria... Bem, isso não é cá nem lá... De fato, eu não estou cá nem lá... Eu não sei nada sobre os segredos do Além, Harry, porque escolhi minha fraca imitação de vida a ele", desabafa Near-Headless Nick.

Eis o depoimento amargurado de um fantasma da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts sobre a continuidade da existência. Ele sabe que a vida não pára com o coração. E o próprio Nick é a prova "viva" disso. Mas ele também sabe que o Além é muito mais do que permanecer ao lado dos vivos, caminhando vagamente por estas bandas. Que o caminho correto é seguir, ir em frente, ainda que não esteja muito certo de para onde...

De fato, JK Rowling nunca se aprofundou nesse ponto. Se a existência do Além é clara, a forma dele é imprecisa no mundo de Harry Potter. Uma característica coerente, acreditamos, com a visão de mundo da autora. É que ela, anglicana de nascença, à moda do nosso católico não-praticante, é daquelas pessoas que apenas crêem em algo mais. A educação religiosa foi suficiente para garantir na alma da escritora uma fé na transcendência, na continuidade da vida.

Mas, e em detalhes? Como se daria esse processo na concepção dela? Rowling provavelmente não sabe dizer. Assim como não é capaz de tecer maiores detalhes sobre o mecanismo do curioso processo inspirativo por trás do "nascimento" de Harry:

Foi após um fim de semana à caça de um apartamento, quando eu viajava de volta a Londres sozinha num trem lotado, que a idéia de Harry Potter simplesmente tomou minha mente. Eu havia escrito quase continuamente desde os seis anos de idade, mas nunca havia ficado tão estusiasmada com uma idéia antes. Para minha imensa frustração, eu não tinha uma caneta que funcionasse comigo, e era muito tímida para pedir emprestado a alguém.

Hoje eu acho que isso provavelmente foi bom, porque eu simplesmente sentei e pensei por quatro horas (de atraso do trem) seguidas, e todos os detalhes fervilharam no meu cérebro, e esse menino magrelo, de cabelo preto e óculos que ignorava ser um bruxo se tornou cada vez mais real para mim. Eu acho que se tivesse tido que frear as idéias de forma que pudesse capturá-las no papel, talvez tivesse perdido algumas delas (apesar de às vezes imaginar, vagamente, o quanto do que imaginei naquela viagem eu já havia esquecido quando finalmente pus as mãos numa caneta).

Profunda inspiração daquelas que todo artista sabe reconhecer de pronto? Ou uma sábia intuição soprada do Mais Além a uma alma preparada pra encarar o desafio? Quem sabe, um pouco de cada coisa... O certo é que a perda da mãe, naquele mesmo ano, deu a JK Rowling a experiência concreta da orfandade. E acendeu a luz que faltava para dar consistência à trama. E arrebatar milhões de pessoas por todo o mundo...

Mas não ache que se encerra por aqui nossa reflexão sobre a Espiritualidade em Harry Potter. Em novo post, vamos destrinchar mais algumas pistas que Rowling deixou para mostrar no último e imensamente aguardado volume Deathly Hallows...

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Novas

O "Pinga-Fogo" de Divaldo Franco na TV O Povo

O médium baiano Divaldo Franco acaba de gravar participação no Coletiva, da TV O Povo, afiliada cearense da TV Cultura. O programa mescla elementos do Pinga-Fogo, da extinta TV Tupi, que notabilizou Chico Xavier e o Espiritismo na década de 70, e do Roda Viva, sucesso ainda hoje nas noites de segunda em todo o país. Seis entrevistadores em círculo ao redor de Divaldo, no centro, para uma entrevista com mais de uma hora de duração.

Ana Márcia Diógenes, oficial de comunicação do Unicef; Ângela Linhares, professora titular da Faculdade de Educação da UFC; Tarcísio Matos, jornalista e escritor; Olga Maia, presidente do Instituto Peter Pan e Romário Fernandes, coordenador de comunicação da Feec participaram do programa, apresentado pelo jornalista Erick Guimarães. Para conferir, basta sintonizar amanhã (15/02), às 21h, o canal 48 (TV aberta), 23 (NET) ou 11 (TV Show). O programa será reprisado na terça-feira (17/02), às 23h45.

Entre os assuntos abordados, é claro, Espiritismo e Arte, com ênfase em mídia, literatura e novas perspectivas no setor! Além de um belo resumo do Seminário Jesus e Vida, que acaba de acontecer no Centro de Convenções de Fortaleza. Imperdível!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Idéias

O Universal e o Eterno na Arte Espírita

Fizemos algumas semanas atrás uma observação filosófica em defesa de um certo “humanismo transcendental". Defendíamos a possibilidade do grandioso na arte que é criada pelo próprio Espírito do espírita ou de quem quer que seja. Isto é, defendíamos que uma arte divina não necessariamente deve ser mediúnica. Ou ainda, que o animismo do médium na obra de arte não é, necessariamente, ruído de comunicação.

Nossa! Quanto palavreado confuso! Mas a coisa é simples... se não simples, fabulosa:

Ficamos encantados com as obras mediúnicas e conferimos beleza e verdade a elas pelo simples fato de serem mediúnicas. É uma tendência quase natural para os devotos do espiritismo esse posicionamento. Aliás, o devotamento tem esse quê de gratuito. O sagrado (é sagrado tudo aquilo que na Terra se reveste de Além) sempre mereceu de nós uma postura acrítica e cegamente respeitosa.

Entretanto, quando Allan Kardec surgiu, duvidando do maravilhoso numa pilhéria que ficou sagrada, desafiando as mesas girantes, ele começou uma jornada que culminou numaaproximação do humano com o divino e do divino com o humano numa conclusão muito simples: todos os Espíritos que habitam o espaço invisível são da mesma natureza que os que estão enredados na carne. Por isso nem todos são puros, mas todos poderão vir a ser. Todos são todos! São as potencialidades, então, que tornam todos os seres iguais em direito, em beleza e em verdade.

Com essa simples conclusão, Kardec encontra a chave que une a Terra ao Céu! Um processo tão fecundo que o deixou admirado com as possibilidades de uma proposta artística baseada na idéia, que deixasse se conduzir por ela.

A arte que prima por ser espiritual e catequética, isto é, doutrinária, é uma arte medieval, onde a única importância reside na revelação da palavra de Deus, sempre para além do que é material. A arte que se restringe sempre ao material, ao presente, ao mortal, é uma arte secular que passa na medida em que passam seus autores. A arte espírita, Kardec havia previsto que ela ultrapassaria todas as outras, porque síntese dialética delas. O elemento mediúnico, ou ainda, o reencarnacionista, ou numa palavra, aquele elemento que costura repetidamente as muitas vidas do universo, a arte que se utilizasse dele ganharia o que toda boa arte quer: o universal e o eterno.

Como fazer isso? Como a mediunidade ou mesmo a reencarnação contribuem para essa questão?

Elas são os modelos melhores para a fabricação dessa arte – da forma como o Espiritismo as encara.

Não basta o Espírito imaterial, deve haver o Espírito intermediário na carne para haver a obra transcrita, pintada, falada, o que for. Não basta a vida na carne, é preciso a vida fora dela, numa comunicação constante entre as vidas para que ambas possam se enriquecer em um progressão infinita.

A mediunidade nunca é um monólogo transcendental, ela é um diálogo entre o que é transcendente e o que é contingente, o que sempre foi com aquilo que ainda é. A reencarnação, por sua vez, promove a solidariedade, dentro de um mesmo indivíduo, entre o passado, o presente, e as possibilidades de futuro. Somos, assim, médiuns e reecarnantes, uma obra de arte criada por Deus, que dialoga, caminha, vive e constrói coletivamente seus próprios caminhos, sua própria Arte.

A Arte Espírita, portanto, vai além do que costumamos pensar que ela é!

Allan Denizard

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Novas

Tarcísio Lima e Divaldo Franco em Fortaleza

Os próximos dias 13 e 14 de fevereiro serão datas memoráveis para o Movimento Espírita do Ceará. De um lado a oratória do mais célebre divulgador espírita das últimas décadas. Do outro, a música e a poesia de um expoente da Arte Espírita nordestina. Um encontro raro, que promete ficar na lembrança de tanta gente quanta o Centro de Convenções de Fortaleza conseguir comportar...

Na sexta-feira (13), Tarcísio Lima se apresenta às 18h45 no auditório F, marcando o lançamento oficial de um projeto histórico: o resgate das fitas K7 Tarcísio José de Lima canta Doutrina Espírita, que vão se converter num Álbum Duplo homônimo. É lá que começa a campanha de venda antecipada do CD. São apenas R$20,00 até o dia 15 de março, com direito a ingresso do show de lançamento para os 600 primeiros. No repertório, sucessos como Quedas e Acertos, O Poeta e Cantilena.

Logo a seguir, é a vez de Divaldo Franco numa abordagem de uma hora sobre o tema Jesus e Vida, que dá nome à obra mais recente do médium atribuída ao Espírito de Joanna de Ângelis. Nesse primeiro dia, todo o evento é gratuito. Já no sábado (14), a programação se repete: Tarcísio Lima de viola, a partir das 13h00, seguido por Divaldo de oratória. Só que dessa vez o seminário se estende até as 18h e requer inscrição: R$35,00, com direito ao livro que dá nome à palestra.

Maiores informações: 3212-1092 / 3212-4268!

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Mais

Travessia da Galinha segundo os espíritas

Lembra daquela velha piada que percorria e-mails de todo o país alguns anos atrás, sobre os motivos que teriam levado a galinha a atravessar a rua...? Pois bem, tivemos hoje uma súbita inspiração baseada nela. Só que agora quem vai responder à questão não serão os grandes nomes do presente e do passado. A pergunta é feita a diferentes tipos de espíritas que existem por aí afora. Você certamente conhece alguns deles. Se freqüenta os fóruns virtuais, deve conhecer a maior parte. Gostemos ou não, eles existem. E se não dá pra evitar o fato, vamos pelo menos nos divertir com ele...

Por que a galinha atravessou a rua?

Ortodoxo: Pra começar, o termo "galinha" nem existe na Codificação! Então isso não tem nada a ver com o Espiritismo. Seja lá o que for, não deve passar de invenção do MEB, sem o aval do CUEE, mas divulgada pelo CX em nome do JC...

Místico Comum: Meu irmão, não se preocupe com questões mundanas. Essa informação certamente não vai ajudar na sua evolução... Faça a caridade, cuide da reforma íntima e busque sempre a luz!

Místico Místico: Olha, eu não sei... Mas ouvi uma vez lá no meu centro que as galinhas se sentem bem onde abundam energias deletérias e que tambem são animais obssessores... Então acho que ela devia estar procurando um motel!

Devoto de São Bezerra: Buscava a Luz emanada pela presença magnânima de Dr. Bezerra e sua falange de companheiros abnegados!

Ramatisiano: Por causa da verticalização do eixo da Terra! Depois que o planeta chupão deu uma trombada na Terra, o nosso orbe finalmente se endireitou, abrindo as portas para a Nova Era! E a galinha seguiu para sua jornada evolutiva...

Roustainguista: Para prosseguir em linha reta rumo à perfeição! Se ela tivesse procurado a passarela, teria desviado da rota! Seria a queda, a falência espiritual! Como seguiu reto, ainda pode se tornar um Cristo Planetário!

Ubaldista: Por ter se deixado guiar por Sua Voz. Foi uma travessia esplêndida, calmíssima, sem tempestade... De quebra, a galinha pôde compreender durante o trajeto o Princípio Único, o Monismo que rege a Grande Síntese do Universo!