Kardec avalia o ano que passou
Não, não se trata de nenhum suposto texto mediúnico. Tampouco era Kardec prevendo o futuro. O que nos chamou a atenção foi o fato de, há 140 anos, o codificador do espiritismo ter feito uma avaliação curiosamente atual sobre o desenvolvimento da doutrina no ano que terminara. Em janeiro de 1868, ele avalia o ano de 1867 no artigo Golpe de Vista Retrospectivo. E revela uma série de acontecimentos e situações que caberiam bem numa avaliação sobre o ano que acaba nas próximas horas. Confira os trechos mais interessantes:
O ano (...) havia sido anunciado como devendo ser particularmente proveitoso ao Espiritismo, e esta previsão realizou-se plenamente. Ele viu aparecer várias obras que, sem levar-lhe o nome, popularizam seus princípios (...) O número das sociedades ou grupos oficialmente conhecidos, é verdade, não aumentou sensivelmente; antes mesmo diminuiu em conseqüência das intrigas com a ajuda das quais procuraram miná-los, neles introduzindo elementos de dissolução; mas em contrapartida, o número das reuniões particulares ou de família cresceu numa proporção muito grande.
Além disso, é notório para todo mundo, e da própria confissão de nossos adversários, que as idéias espíritas ganharam terreno consideravelmente (...) Elas se infiltram por uma multidão de saídas; tudo a isto concorre; as coisas que, à primeira vista, ali parecem as mais estranhas, são meios com a ajuda dos quais essas idéias se fazem luz. É que o Espiritismo toca a um tão grande número de questões que é bem difícil abordar o que quer que seja sem nisso ver surgir um pensamento espírita, de tal sorte que, mesmo nos meios refratários, essas idéias eclodem sob uma forma ou sob uma outra, como essas plantas de cores variadas que brotam através das pedras. E, como nesses meios, geralmente, rejeita-se o Espiritismo por espírito de prevenção, sem saber o que ele diz, não é surpreendente que, quando os pensamentos espíritas ali aparecem, não se os reconhece, e, então, são aclamados por-que são achados bons, sem desconfiar que são do Espiritismo.
A literatura contemporânea, pequena ou grande, séria ou leviana, semeia essas idéias em profusão; ela está delas matizada, e não lhe falta absolutamente senão o nome. Se se reunissem todos os pensamentos espíritas que correm o mundo, se constituiria o Espiritismo completo. Ora, aí está um fato considerável, e um dos mais característicos do ano que acaba de se escoar. Ele prova que todos possuem dele, de si para si, elementos no estado de intuição, e que, entre seus antagonistas e ele, o mais freqüentemente, não há senão uma questão de palavras. Os que o repelem, com perfeito conhecimento de causa são aqueles que têm interesse em combatê-lo.
Mas, então, como chegar a fazê-lo conhecer para triunfar dessas prevenções? Isto é obra do tempo. É preciso que as circunstâncias o conduzam naturalmente, e pode-se contar para isto com os Espíritos que sabem fazê-las nascer em tempo oportuno. Estas circunstâncias são particulares ou gerais; as primeiras agem sobre os indivíduos e as outras sobre as massas. As últimas, pela sua repercussão, fazem o efeito de minas que, a cada explosão, levantam alguns fragmentos do rochedo.
Que cada Espírita trabalhe de seu lado, sem se desencorajar pela pouca importância do resultado obtido individualmente, e pense que à força de acumular grãos de areia forma-se uma montanha!
Gostou? Se quiser conferir o texto na íntegra, é só clicar aqui:
http://espiritodearte.blogspot.com/2008/07/contedo-extra_02.html
E Feliz Ano Novo para todos nós!!!
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Mais
A Moça Espírita de Clarice Lispector
"A moça, com os sapatos apertados, estremeceu com medo de si própria. Tinha medo de se purificar tanto que não precisasse de mais nada. Como imaginar um ser que não precisasse de nada? era monstruoso. 'Não quero progredir', disse teimosa (...) Oh Deus, por que me escolheste para ser espírita e para compreender e saber?"
Eis o mote de uma curiosa reflexão espírita feita pela personagem Ermelinda, no livro A Maçã no Escuro, de Clarice Lispector. O romance, que recebeu em 1962 o Prêmio Carmem Dolores Barbosa de melhor trabalho literário do ano, trata do drama pessoal de Martim. Ele vive uma relação conturbada com três mulheres: Vitória, dona da fazenda onde trabalha em troca de hospedagem; a mulata empregada da fazenda, cujo nome não é revelado na trama; e Ermelinda, prima de Vitória, viúva animada com a chegada de um homem ao ambiente antes tomado pela feminilidade...
Quando consegue marcar um encontro com Martim, Ermelinda chega mais cedo ao local combinado e aguarda sozinha por cerca de uma hora. É nesse meio tempo que reflete sobre si, seus medos e incertezas, a incapacidade de ser como gostaria e a falta de tempo para conquistar todos os sonhos... É aí que vem o medo da finitude e de uma certa insustentável leveza do Espírito. Com vocês, a reflexão espírita de Clarice Lispector:
http://espiritodearte.blogspot.com/2008/12/contedo-extra.html
"A moça, com os sapatos apertados, estremeceu com medo de si própria. Tinha medo de se purificar tanto que não precisasse de mais nada. Como imaginar um ser que não precisasse de nada? era monstruoso. 'Não quero progredir', disse teimosa (...) Oh Deus, por que me escolheste para ser espírita e para compreender e saber?"
Eis o mote de uma curiosa reflexão espírita feita pela personagem Ermelinda, no livro A Maçã no Escuro, de Clarice Lispector. O romance, que recebeu em 1962 o Prêmio Carmem Dolores Barbosa de melhor trabalho literário do ano, trata do drama pessoal de Martim. Ele vive uma relação conturbada com três mulheres: Vitória, dona da fazenda onde trabalha em troca de hospedagem; a mulata empregada da fazenda, cujo nome não é revelado na trama; e Ermelinda, prima de Vitória, viúva animada com a chegada de um homem ao ambiente antes tomado pela feminilidade...
Quando consegue marcar um encontro com Martim, Ermelinda chega mais cedo ao local combinado e aguarda sozinha por cerca de uma hora. É nesse meio tempo que reflete sobre si, seus medos e incertezas, a incapacidade de ser como gostaria e a falta de tempo para conquistar todos os sonhos... É aí que vem o medo da finitude e de uma certa insustentável leveza do Espírito. Com vocês, a reflexão espírita de Clarice Lispector:
http://espiritodearte.blogspot.com/2008/12/contedo-extra.html
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Idéias
Mensagem de Natal
Dia de festa, paz e busca espiritual para boa parte do mundo. Pelo menos hoje, cai a violência, abranda o ódio e diminui a dor. Quem dera que isso tudo não fosse só hoje. Que a data e todos os outros símbolos do nascimento da Esperança fossem mesmo apenas representações. Da determinação, da força, da coragem e do desejo sincero de se aprimorar mais e mais a cada dia. Quem dera que cada Natal fosse apenas um marco. Para nos reunirmos, sentados à mesa de um banquete espiritual, a compartilhar os frutos de um ano inteiro de luta! Talvez fosse assim que o grande homenageado do dia preferisse. Talvez assim só fizéssemos jus ao legado que ele nos deixou.
Gostaríamos de deixar aqui hoje uma canção fantástica do compositor mineiro James Wulisses Marotta, intitulada Noite Igual. Ela já foi gravada, pelo menos, pelos grupos espíritas Arte Nascente (GO) e Meu Cantar (MG) e pela Marielza Tiscate (RJ). Mas, infelizmente, não conseguimos localizar nenhum vídeo de qualidade da canção. Eis por que optamos por trazer uma bela faixa do CD Chico Xavier em sua casa ...na presença do Natal. Trata-se da mensagem Oração do Natal, atribuída ao Espírito Meimei, psicografada e narrada pelo próprio médium!
Dia de festa, paz e busca espiritual para boa parte do mundo. Pelo menos hoje, cai a violência, abranda o ódio e diminui a dor. Quem dera que isso tudo não fosse só hoje. Que a data e todos os outros símbolos do nascimento da Esperança fossem mesmo apenas representações. Da determinação, da força, da coragem e do desejo sincero de se aprimorar mais e mais a cada dia. Quem dera que cada Natal fosse apenas um marco. Para nos reunirmos, sentados à mesa de um banquete espiritual, a compartilhar os frutos de um ano inteiro de luta! Talvez fosse assim que o grande homenageado do dia preferisse. Talvez assim só fizéssemos jus ao legado que ele nos deixou.
Gostaríamos de deixar aqui hoje uma canção fantástica do compositor mineiro James Wulisses Marotta, intitulada Noite Igual. Ela já foi gravada, pelo menos, pelos grupos espíritas Arte Nascente (GO) e Meu Cantar (MG) e pela Marielza Tiscate (RJ). Mas, infelizmente, não conseguimos localizar nenhum vídeo de qualidade da canção. Eis por que optamos por trazer uma bela faixa do CD Chico Xavier em sua casa ...na presença do Natal. Trata-se da mensagem Oração do Natal, atribuída ao Espírito Meimei, psicografada e narrada pelo próprio médium!
domingo, 21 de dezembro de 2008
Elis Regina, cantora espírita?
E não é que a Pimentinha, Elis Regina, também foi espírita? Não só estudava a doutrina sistematizada por Kardec, como freqüentava um centro espírita em Curitiba e psicografava. De quebra, ainda serviu de ponte para a adesão de outros nomes notáveis da MPB ao espiritismo, a exemplo de Clara Nunes. O texto abaixo, que encontramos no Tablóide Digital, dá alguns detalhes pouco conhecidos sobre a vivência espírita da cantora. Ele foi escrito por Aramis Millarch e publicado no jornal Estado do Paraná, em 24 de janeiro de 1982, cinco dias após a morte da Pequena Notável.
Elis Regina foi durante muitos anos uma das maiores incentivadoras das obras filantrópicas que o espírita Amaury da Cruz desenvolve através do Centro Espírita Dr. Leocádio. Participando das sessões do Centro dedicado à fé kardecista, Elis Regina sempre foi bastante discreta em torno desta sua atividade e pelo fato da doutrina de Alan Kardeck (Leon Hipolyte Denizar Revail [sic] , 1804-1869) condenar totalmente o suicídio, todos que conheciam bem Elis Regina não acreditam, de forma alguma, que ela tenha, voluntariamente, posto fim a sua vida na manhã de segunda-feira.
A ligação de Elis Regina com o Centro Espírita Dr. Leocádio José Correa a levou, algumas vezes, fazer shows em favor de obras sociais auxiliadas pelo professor e médium Amaury Cruz – numa contribuição das mais meritórias e que fazia aumentar ainda mais o respeito e carinho que tantos tinham por sua pessoa. A ligação de Elis Regina com o professor Amaury Cruz e seus companheiros do Centro Espírita Dr. Leocádio José Correa e as graças recebidas, fez com que inúmeros de outros famosos da vida artística brasileira também passassem a freqüentar suas sessões, num trabalho discreto e que nunca teve qualquer exploração publicitária.
Entre outros já freqüentaram o Centro Espírita Dr. Leocádio José Correa, nestes últimos anos, artistas como Roberto Carlos, Clara Nunes e Geraldo Del Rey – este, aliás, por um longo período.
Imagina só, umas das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos fazendo show em prol de instituições espíritas! Pra completar, só faltava Elis Regina cantar música espírita também... Bom, se pensarmos em música espírita como a composição musical escrita sob influência do espiritismo, que expressa um sentimento coerente com a visão de mundo espírita... Então ela cantou! Não só cantou como gravou! E o Espírito de Arte traz aqui a raríssima composição No Céu da Vibração, de Gilberto Gil. Uma homenagem a Chico Xavier, interpretada ao vivo por Elis!
Se quiser conferir a letra, é só clicar aqui:
http://espiritodearte.blogspot.com/2008/07/contedo-extra_01.html
Elis Regina foi durante muitos anos uma das maiores incentivadoras das obras filantrópicas que o espírita Amaury da Cruz desenvolve através do Centro Espírita Dr. Leocádio. Participando das sessões do Centro dedicado à fé kardecista, Elis Regina sempre foi bastante discreta em torno desta sua atividade e pelo fato da doutrina de Alan Kardeck (Leon Hipolyte Denizar Revail [sic] , 1804-1869) condenar totalmente o suicídio, todos que conheciam bem Elis Regina não acreditam, de forma alguma, que ela tenha, voluntariamente, posto fim a sua vida na manhã de segunda-feira.
A ligação de Elis Regina com o Centro Espírita Dr. Leocádio José Correa a levou, algumas vezes, fazer shows em favor de obras sociais auxiliadas pelo professor e médium Amaury Cruz – numa contribuição das mais meritórias e que fazia aumentar ainda mais o respeito e carinho que tantos tinham por sua pessoa. A ligação de Elis Regina com o professor Amaury Cruz e seus companheiros do Centro Espírita Dr. Leocádio José Correa e as graças recebidas, fez com que inúmeros de outros famosos da vida artística brasileira também passassem a freqüentar suas sessões, num trabalho discreto e que nunca teve qualquer exploração publicitária.
Entre outros já freqüentaram o Centro Espírita Dr. Leocádio José Correa, nestes últimos anos, artistas como Roberto Carlos, Clara Nunes e Geraldo Del Rey – este, aliás, por um longo período.
Imagina só, umas das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos fazendo show em prol de instituições espíritas! Pra completar, só faltava Elis Regina cantar música espírita também... Bom, se pensarmos em música espírita como a composição musical escrita sob influência do espiritismo, que expressa um sentimento coerente com a visão de mundo espírita... Então ela cantou! Não só cantou como gravou! E o Espírito de Arte traz aqui a raríssima composição No Céu da Vibração, de Gilberto Gil. Uma homenagem a Chico Xavier, interpretada ao vivo por Elis!
Se quiser conferir a letra, é só clicar aqui:
http://espiritodearte.blogspot.com/2008/07/contedo-extra_01.html
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Novas
Anunciado Disco Duplo de Música Espírita para 2009
A I Mostra Abrarte Nordeste, que reuniu em novembro grupos e artistas espíritas de quatro estados no município de Guaiúba (CE), ainda rende frutos. Riquíssimos, por sinal. A emocionante apresentação de Tarcísio Lima no último dia do evento inspirou a Coordenação de Artes da Federação Espírita do Estado do Ceará a tirar um projeto antigo do baú.
Tarcísio José Lima canta Doutrina Espírita foi um dos primeiros projetos musicais espíritas gravados no Ceará. Foram dois cassetes lançados em 1994 e 1995. Um divisor de águas, que ajudou a disseminar a música espírita no estado e rendeu regravações em vários CDs do Grupo Ame.
De lá para cá, a idéia de transformar as fitas em disco surgiu em várias ocasiões, sem nunca avançar. Agora, a Coordenação já definiu data para o lançamento do disco, possivelmente o primeiro álbum duplo de música espírita já feito no Brasil: 2 de julho de 2009. A pré-venda começa dia 13 de fevereiro, durante seminário de Divaldo Pereira Franco em Fortaleza, com direito a show de lançamento e uma campanha maciça de divulgação. Mais informações em breve!
A I Mostra Abrarte Nordeste, que reuniu em novembro grupos e artistas espíritas de quatro estados no município de Guaiúba (CE), ainda rende frutos. Riquíssimos, por sinal. A emocionante apresentação de Tarcísio Lima no último dia do evento inspirou a Coordenação de Artes da Federação Espírita do Estado do Ceará a tirar um projeto antigo do baú.
Tarcísio José Lima canta Doutrina Espírita foi um dos primeiros projetos musicais espíritas gravados no Ceará. Foram dois cassetes lançados em 1994 e 1995. Um divisor de águas, que ajudou a disseminar a música espírita no estado e rendeu regravações em vários CDs do Grupo Ame.
De lá para cá, a idéia de transformar as fitas em disco surgiu em várias ocasiões, sem nunca avançar. Agora, a Coordenação já definiu data para o lançamento do disco, possivelmente o primeiro álbum duplo de música espírita já feito no Brasil: 2 de julho de 2009. A pré-venda começa dia 13 de fevereiro, durante seminário de Divaldo Pereira Franco em Fortaleza, com direito a show de lançamento e uma campanha maciça de divulgação. Mais informações em breve!
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
As Mães de Chico Xavier
Quatro histórias, um mesmo drama. Mães que perderam filhos. Mulheres em busca de consolo. Caminhos que levam a Chico Xavier. Esse é o ponto de partida para o próximo filme da Estação da Luz, a ONG reponsável pela realização de Bezerra de Menezes, o Diário de um Espírito. O anúnico oficial veio nessa semana, após uma longa negociação com a Federação Espírita Brasileira sobre direitos autorais.
É que, com o sucesso do Bezerra, muita gente correu de garantir os direitos sobre a adaptação de obras importantes de Chico Xavier para o cinema. Praticamente não sobrou nenhuma da série André Luiz, por exemplo. Sexo e Destino, que estava na mira da Estação da Luz, já está cedido para a Legião da Boa Vontade, junto com outras quatro obras...
A opção da ONG foi recorrer à obra mediúnica de Chico apenas como fonte de inspiração. "Assim não tem problema com direitos autorais e a gente pode criar com mais liberdade", explica o diretor de Bezerra e do novo filme, Glauber Filho. Como o projeto ainda está em fase de pesquisa, não há definição sobre quais histórias exatamente servirão de base para a trama. Mas o certo é que parte desse material sairá dentre as inúmeras cartas de "filhos mortos" psicografadas pelo médium.
Além disso, está definido que o enredo será centrado na história de vida das mulheres, e não em fenômenos espirituais. "É uma forma de mostrar um lado mais humano de tudo aquilo que cercava o Chico", justifica Glauber. Data de lançamento: 02 de abril de 2010, no centenário de nascimento do médium!
É que, com o sucesso do Bezerra, muita gente correu de garantir os direitos sobre a adaptação de obras importantes de Chico Xavier para o cinema. Praticamente não sobrou nenhuma da série André Luiz, por exemplo. Sexo e Destino, que estava na mira da Estação da Luz, já está cedido para a Legião da Boa Vontade, junto com outras quatro obras...
A opção da ONG foi recorrer à obra mediúnica de Chico apenas como fonte de inspiração. "Assim não tem problema com direitos autorais e a gente pode criar com mais liberdade", explica o diretor de Bezerra e do novo filme, Glauber Filho. Como o projeto ainda está em fase de pesquisa, não há definição sobre quais histórias exatamente servirão de base para a trama. Mas o certo é que parte desse material sairá dentre as inúmeras cartas de "filhos mortos" psicografadas pelo médium.
Além disso, está definido que o enredo será centrado na história de vida das mulheres, e não em fenômenos espirituais. "É uma forma de mostrar um lado mais humano de tudo aquilo que cercava o Chico", justifica Glauber. Data de lançamento: 02 de abril de 2010, no centenário de nascimento do médium!
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Idéias
O Espiritismo na Cultura Popular IV
Todo aquele que não vê uma ruptura entre o espiritismo à época de Kardec, francês, e o espiritismo brasileiro, de Bezerra e de Chico, ou é novo por essas bandas, ou se ateve à mera adesão dos princípios sem muita pesquisa do que foi o fenômeno Espiritismo no mundo.
A literatura dos primórdios era de jornal de estudos, o que talvez valesse aos periódicos científicos que temos hoje, com a ressalva de a linguagem ser bem menos seca. Ganhava em divulgação o que perdia em rigorosidade metódica. Kardec tinha sim rigor e critério, mas nada comparado à obsessão dos fabricadores de ciência. Conseguia assim mais alcance às massas, utilizando uma linguagem e um raciocínio menos hermético. Preocupava-se com didática, coisa rara nesses textos técnicos.
Houve uma grande repercussão quando foi lançada uma biografia de Joana D’Arc, pretensamente escrita por ela mesma, em espírito, psicografada pela senhorita Dufaux de catorze anos. Algumas poesias de inspiração espírita, alguns romances com toques de espiritismo, às vezes guiados pela moral que o espiritismo revelava, mas nunca os trabalhos de fôlego que tivemos aqui no Brasil.
Não queremos colocar em questão aqui a qualidade dos romances mediúnicos, mas o fato incontestável de nosso espiritismo ter se firmado mais em narrativas do plano espiritual que na observação criteriosa de fenômenos ou na análise das mensagens dos espíritos.
Ganhamos uma imensa obra literária em detrimento de uma densa obra científica. Se isso foi ruim? Deixemos Kardec falar:
“Para a explicação das coisas espirituais, por vezes me sirvo de comparações muito materiais e, talvez mesmo, um tanto forçadas, que nem sempre devem ser tomadas ao pé da letra. (...) É a tais comparações que a doutrina espírita deve, em grande parte, ter sido facilmente compreendida, mesmo pelas mais vulgares inteligências, ao passo que se eu tivesse ficado nas abstrações da filosofia metafísica, ainda hoje ela não teria sido partilhada senão de algumas inteligências de escol. Ora, desde o princípio, importava que ela fosse aceita pelas massas, porque a opinião das massas exerce uma pressão que acaba fazendo lei e triunfando das oposições mais tenazes. Eis porque me esforcei em simplificá-la e torná-la clara, a fim de pô-la ao alcance de todos, com o risco de fazê-la contestada por certa gente quanto ao título de filosofia, por que não é bastante abstrata e saiu do nevoeiro da metafísica clássica.” (Dezembro de 1864 em discurso proferido na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas por ocasião da Comemoração dos Mortos.)
- Mas, isso enviesa a verdade! Dirão as inteligências de escol...
“Fora da verdade não há salvação equivaleria ao Fora da Igreja não há salvação e seria igualmente exclusivo, porquanto nenhuma seita existe que não pretenda ter o privilégio da verdade. Que homem se pode vangloriar de possuí-la integral, quando o âmbito dos conhecimentos incessantemente se alarga e todos os dias se retificam as idéias? (...) Se Deus houvera feito da posse da verdade absoluta condição expressa da felicidade futura, teria proferido uma sentença de proscrição geral, ao passo que a caridade, mesmo na sua mais ampla acepção, podem todos praticá-la.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, “Fora da caridade não há salvação”)
- Meu Deus! Que blog profano! Prestam culto ao irracional, traindo a nossa tradição de Luzes... Não citamos aqui como “palavra da salvação”. Resgatamos Kardec para dialogar com ele. E, enquanto os espíritos fortes se estremecem com essa humilhação da razão, mostramos aos artistas brechas na nossa doutrina por onde novas sensibilidades podem surgir.
Allan Denizard
Todo aquele que não vê uma ruptura entre o espiritismo à época de Kardec, francês, e o espiritismo brasileiro, de Bezerra e de Chico, ou é novo por essas bandas, ou se ateve à mera adesão dos princípios sem muita pesquisa do que foi o fenômeno Espiritismo no mundo.
A literatura dos primórdios era de jornal de estudos, o que talvez valesse aos periódicos científicos que temos hoje, com a ressalva de a linguagem ser bem menos seca. Ganhava em divulgação o que perdia em rigorosidade metódica. Kardec tinha sim rigor e critério, mas nada comparado à obsessão dos fabricadores de ciência. Conseguia assim mais alcance às massas, utilizando uma linguagem e um raciocínio menos hermético. Preocupava-se com didática, coisa rara nesses textos técnicos.
Houve uma grande repercussão quando foi lançada uma biografia de Joana D’Arc, pretensamente escrita por ela mesma, em espírito, psicografada pela senhorita Dufaux de catorze anos. Algumas poesias de inspiração espírita, alguns romances com toques de espiritismo, às vezes guiados pela moral que o espiritismo revelava, mas nunca os trabalhos de fôlego que tivemos aqui no Brasil.
Não queremos colocar em questão aqui a qualidade dos romances mediúnicos, mas o fato incontestável de nosso espiritismo ter se firmado mais em narrativas do plano espiritual que na observação criteriosa de fenômenos ou na análise das mensagens dos espíritos.
Ganhamos uma imensa obra literária em detrimento de uma densa obra científica. Se isso foi ruim? Deixemos Kardec falar:
“Para a explicação das coisas espirituais, por vezes me sirvo de comparações muito materiais e, talvez mesmo, um tanto forçadas, que nem sempre devem ser tomadas ao pé da letra. (...) É a tais comparações que a doutrina espírita deve, em grande parte, ter sido facilmente compreendida, mesmo pelas mais vulgares inteligências, ao passo que se eu tivesse ficado nas abstrações da filosofia metafísica, ainda hoje ela não teria sido partilhada senão de algumas inteligências de escol. Ora, desde o princípio, importava que ela fosse aceita pelas massas, porque a opinião das massas exerce uma pressão que acaba fazendo lei e triunfando das oposições mais tenazes. Eis porque me esforcei em simplificá-la e torná-la clara, a fim de pô-la ao alcance de todos, com o risco de fazê-la contestada por certa gente quanto ao título de filosofia, por que não é bastante abstrata e saiu do nevoeiro da metafísica clássica.” (Dezembro de 1864 em discurso proferido na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas por ocasião da Comemoração dos Mortos.)
- Mas, isso enviesa a verdade! Dirão as inteligências de escol...
“Fora da verdade não há salvação equivaleria ao Fora da Igreja não há salvação e seria igualmente exclusivo, porquanto nenhuma seita existe que não pretenda ter o privilégio da verdade. Que homem se pode vangloriar de possuí-la integral, quando o âmbito dos conhecimentos incessantemente se alarga e todos os dias se retificam as idéias? (...) Se Deus houvera feito da posse da verdade absoluta condição expressa da felicidade futura, teria proferido uma sentença de proscrição geral, ao passo que a caridade, mesmo na sua mais ampla acepção, podem todos praticá-la.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, “Fora da caridade não há salvação”)
- Meu Deus! Que blog profano! Prestam culto ao irracional, traindo a nossa tradição de Luzes... Não citamos aqui como “palavra da salvação”. Resgatamos Kardec para dialogar com ele. E, enquanto os espíritos fortes se estremecem com essa humilhação da razão, mostramos aos artistas brechas na nossa doutrina por onde novas sensibilidades podem surgir.
Allan Denizard
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Mais
A outra experiência espírita de Machado de Assis
Hão de lembrar-se da minha aventura espírita, e da promessa que fiz, de iniciar-me na nova igreja. Vão ver agora o que me aconteceu.
Assim começa a crônica de Machado de Assis publicada no dia 11 de outubro de 1885, na Gazeta de Notícias. Exatamente uma semana após uma das mais fantásticas crônicas já escritas em língua portuguesa, na qual o Bruxo versava sobre o mesmo tema. Como nem ele era perfeito, este segundo texto não guarda o mesmo brilho do primeiro. É engenhoso, bem escrito, machadianamente irônico, mas, é preciso reconhecer, deixa um pouco a desejar em relação ao primeiro, que foi um dos mais acessados de todos os tempos neste Portal.
Mesmo assim, resolvemos colocá-lo aqui também. Vai propiciar um bom momento de leitura aos apaixonados pela pena de Machado. E vai mostrar aos interessados pela temática espírita, ainda e sempre, mais um exemplo de como essa proposta de compreensão da realidade influenciou a cultura brasileira, ainda em fins do século XIX. É clicar abaixo e aproveitar!
http://espiritodearte.blogspot.com/2008/07/contedo-extra_06.html
Hão de lembrar-se da minha aventura espírita, e da promessa que fiz, de iniciar-me na nova igreja. Vão ver agora o que me aconteceu.
Assim começa a crônica de Machado de Assis publicada no dia 11 de outubro de 1885, na Gazeta de Notícias. Exatamente uma semana após uma das mais fantásticas crônicas já escritas em língua portuguesa, na qual o Bruxo versava sobre o mesmo tema. Como nem ele era perfeito, este segundo texto não guarda o mesmo brilho do primeiro. É engenhoso, bem escrito, machadianamente irônico, mas, é preciso reconhecer, deixa um pouco a desejar em relação ao primeiro, que foi um dos mais acessados de todos os tempos neste Portal.
Mesmo assim, resolvemos colocá-lo aqui também. Vai propiciar um bom momento de leitura aos apaixonados pela pena de Machado. E vai mostrar aos interessados pela temática espírita, ainda e sempre, mais um exemplo de como essa proposta de compreensão da realidade influenciou a cultura brasileira, ainda em fins do século XIX. É clicar abaixo e aproveitar!
http://espiritodearte.blogspot.com/2008/07/contedo-extra_06.html
domingo, 7 de dezembro de 2008
Mais
Por trás do Parnaso de Além-Túmulo
Versión en Español
Charlatanismo, inconsciente ou mediunidade? Qual das três hipóteses explica melhor o fenômeno Parnaso de Além-Túmulo? Lançada em 1932, a antologia poética entrou para a história como o primeiro de mais de 400 livros atribuídos à psicografia de Chico Xavier. "...em consciência, não posso dizer que são minhas, porque não despendi nenhum esforço intelectual ao grafá-las no papel", escreveria o médium um ano antes, afastando de si qualquer mérito pela autoria dos textos.
Originalmente eram 60 poemas, que traziam assinatura de 14 autores lusófonos. Ao longo das edições seguintes foram-se incorporando mais e mais textos, até que na sexta (1955) o livro chegou à formatação final: 259 poemas e 56 autores. De Castro Alves a D. Pedro II, há versos de todo tipo, freqüentemente tratando de temas espirituais, morais ou religiosos. Que repercussão teve a obra? Vejamos alguns exemplos, extraídos do mais completo trabalho sobre o tema feito até hoje, A poesia transcendente de Parnaso de além-túmulo, de Alexandre Caroli.
Humberto de Campos, à época já ocupante da cadeira de Joaquim Manuel de Macedo na Academia Brasileira de Letras, "resume o tipo de comentário feito pelos intelectuais da época que se pronunciaram sobre o tema", nos dizeres de Caroli:
Eu faltaria, entretanto, ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pela pena do sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e de expressão que os identificavam neste planeta. Os temas abordados são os que os preocuparam em vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos.
Monteiro Lobato, por sua vez, afirmou: Se o homem realmente produziu por conta própria tudo o que vem do ‘Parnaso’ então ele pode estar em qualquer Academia, ocupando quantas cadeiras quiser...
Enquanto isso, o fundador da Academia Rio-Grandense de Letras, Zeferino Brasil, sentenciava: ou as poesias em apreço são de fato dos autores citados e foram realmente transmitidas do Além ao médium que as psicografou, ou o Sr. Francisco Xavier é um poeta extraordinário, genial mesmo, capaz de produzir e imitar assombrosamente os maiores gênios da poesia universal.
Apesar de todos as avaliações positivas, é claro que a obra passa longe de qualquer unanimidade. Outros analistas apontam a ocorrência de versos pobres, construções simplórias e sonetos mal-formulados. Uma das críticas mais corriqueiras foi sintetizada em 1971, na Revista Realidade, pelo crítico literário Léo Gilson Ribeiro: Uma coisa é clara: Quando o 'espírito' sobe, sua qualidade desce. É inconcebível que grandes criadores de nossa língua, depois da morte fiquem por aí gargarejando o tatibitate espírita.
Exagero ou não, o fato é que muitos textos atribuídos a escritores mortos parecem meio passados mesmo. Se em alguns a semelhança é gritante, a exemplo de Augusto dos Anjos e Guerra Junqueiro, noutros a diferença não deixa de falar tão alto quanto... Vide os sonetos do Alberto de Oliveira mediúnico, bem distantes da perfeição técnica que notabilizou o parnasiano. Ou mesmo os atribuídos a Antero de Quental, com construções bem mais simplórias do que aquelas que marcaram o estilo do poeta português.
Sem a pretensão de encerrar o debate, deixamos aqui apenas um dos sonetos do Parnaso para análise. Chama-se Jesus ou Barrabás?, e traz a assinatura do Príncipe dos Poetas, Olavo Bilac. Se é dele mesmo, não podemos dizer. Mas que se trata de uma das mais belas peças já atribuídas a Espíritos, ah, se trata! É só clicar aqui!
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Charlatanismo, inconsciente ou mediunidade? Qual das três hipóteses explica melhor o fenômeno Parnaso de Além-Túmulo? Lançada em 1932, a antologia poética entrou para a história como o primeiro de mais de 400 livros atribuídos à psicografia de Chico Xavier. "...em consciência, não posso dizer que são minhas, porque não despendi nenhum esforço intelectual ao grafá-las no papel", escreveria o médium um ano antes, afastando de si qualquer mérito pela autoria dos textos.
Originalmente eram 60 poemas, que traziam assinatura de 14 autores lusófonos. Ao longo das edições seguintes foram-se incorporando mais e mais textos, até que na sexta (1955) o livro chegou à formatação final: 259 poemas e 56 autores. De Castro Alves a D. Pedro II, há versos de todo tipo, freqüentemente tratando de temas espirituais, morais ou religiosos. Que repercussão teve a obra? Vejamos alguns exemplos, extraídos do mais completo trabalho sobre o tema feito até hoje, A poesia transcendente de Parnaso de além-túmulo, de Alexandre Caroli.
Humberto de Campos, à época já ocupante da cadeira de Joaquim Manuel de Macedo na Academia Brasileira de Letras, "resume o tipo de comentário feito pelos intelectuais da época que se pronunciaram sobre o tema", nos dizeres de Caroli:
Eu faltaria, entretanto, ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pela pena do sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e de expressão que os identificavam neste planeta. Os temas abordados são os que os preocuparam em vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos.
Monteiro Lobato, por sua vez, afirmou: Se o homem realmente produziu por conta própria tudo o que vem do ‘Parnaso’ então ele pode estar em qualquer Academia, ocupando quantas cadeiras quiser...
Enquanto isso, o fundador da Academia Rio-Grandense de Letras, Zeferino Brasil, sentenciava: ou as poesias em apreço são de fato dos autores citados e foram realmente transmitidas do Além ao médium que as psicografou, ou o Sr. Francisco Xavier é um poeta extraordinário, genial mesmo, capaz de produzir e imitar assombrosamente os maiores gênios da poesia universal.
Apesar de todos as avaliações positivas, é claro que a obra passa longe de qualquer unanimidade. Outros analistas apontam a ocorrência de versos pobres, construções simplórias e sonetos mal-formulados. Uma das críticas mais corriqueiras foi sintetizada em 1971, na Revista Realidade, pelo crítico literário Léo Gilson Ribeiro: Uma coisa é clara: Quando o 'espírito' sobe, sua qualidade desce. É inconcebível que grandes criadores de nossa língua, depois da morte fiquem por aí gargarejando o tatibitate espírita.
Exagero ou não, o fato é que muitos textos atribuídos a escritores mortos parecem meio passados mesmo. Se em alguns a semelhança é gritante, a exemplo de Augusto dos Anjos e Guerra Junqueiro, noutros a diferença não deixa de falar tão alto quanto... Vide os sonetos do Alberto de Oliveira mediúnico, bem distantes da perfeição técnica que notabilizou o parnasiano. Ou mesmo os atribuídos a Antero de Quental, com construções bem mais simplórias do que aquelas que marcaram o estilo do poeta português.
Sem a pretensão de encerrar o debate, deixamos aqui apenas um dos sonetos do Parnaso para análise. Chama-se Jesus ou Barrabás?, e traz a assinatura do Príncipe dos Poetas, Olavo Bilac. Se é dele mesmo, não podemos dizer. Mas que se trata de uma das mais belas peças já atribuídas a Espíritos, ah, se trata! É só clicar aqui!
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Idéias
O Espiritismo na Cultura Popular III
Lembra do último artigo, quando prometemos tratar dos significados de um dogma cientificamente impossível, mas facilmente assimilado pela cultura popular? Eis que abordamos agora a famosa Virgindade de Maria. Não queremos defender a veracidade do fenômeno, mas sim captar o que os ecos desse discurso têm a nos oferecer.
Lembra do último artigo, quando prometemos tratar dos significados de um dogma cientificamente impossível, mas facilmente assimilado pela cultura popular? Eis que abordamos agora a famosa Virgindade de Maria. Não queremos defender a veracidade do fenômeno, mas sim captar o que os ecos desse discurso têm a nos oferecer.
O primeiro fato que devemos tomar consciência é que para os judeus a virgindade perpétua era motivo de escândalo, motivo de desprezo. A mulher, no pensamento agrário e totalizador desse povo, tinha de ser como uma boa terra: fértil. Ora, a descendência de Abraão deveria povoar o mundo.
Não era um valor de virtude de autocontrole a manutenção da virgindade, como o era para os estóicos. Tão pouco era um relacionamento sacro-carnal entre as virgens da terra e os deuses do céu, algo como as vestais. A virgindade era um valor a ser ultrapassado por um ritual bem específico daquela sociedade. A infertilidade era mal vista. Vide o pesar de Sara por não gerar filhos ao pai Abraão, vide a reclusão que era imposta a mulher em seu período menstrual nessa cultura por ser este um período infértil.
A virgindade de Maria, portanto, antes de ter representado um repúdio ao sexo, representou uma condição humilhante de Maria. Jesus nasceu pobre e de uma mulher virgem.
Mas, a virgindade dela não tinha um valor em si. Era uma virgindade a serviço constante de Deus. Uma condição humilhante a serviço de Deus, bem conforme um discurso de resignação. Sendo que, do seio da humilhação, Deus trazia o salvador daquele mundo. Não tirou o messias de uma seita privilegiada, mas dos maltratados da terra.
O segundo fato é o caráter surpreendente que representa a virgindade. Esperava-se que o messias viesse de um casal que tivesse passado pelos ritos sociais. Maria é surpreendida grávida sem nunca ter conhecido varão. Nesse ponto o discurso da virgindade nos fala das manifestações de Deus na vida humana, inesperadas e, porque não dizer, ilegais.
O mais duro obstáculo que encontramos na ciência oficial é a sua impossibilidade de reconhecer o que não pode conceber na sua perspectiva de laboratório, quando Deus se manifesta além de todo condicionamento experimental. A vida pulsa de surpresas.
Um terceiro fato: o louvor à onipotência. Se de uma virgem é impossível nascer criança, derruba Deus as concepções humanas e lança sombra sobre o ventre de Maria, fazendo ser o que não se acreditava que pudesse vir a ser.
Por último, nessa mensagem milenar da virgindade, dorme a mais sublime mensagem de mediunidade. A mediunidade é assim como a virgindade de Maria. Eurípedes Barsanulfo, conhecido vulto do espiritismo, grande médium e divulgador da doutrina no interior de Minas Gerais, se admirou quando viu um sertanejo pobre, virgem(!) de qualquer conhecimento, proferir uma palestra com as mais belas reflexões sobre a doutrina espírita – falava mediunicamente!
Contrariando aqueles que acreditam e lutam por uma sociedade construída apenas pelo esforço humano, o discurso da virgindade vem trazendo uma verdade que há coisas no mundo que vieram direta e gratuitamente de Deus. O amor incondicional, a misericórdia, a piedade, são todos eles palavras do caderno divino que nos dá esse tom virginal.
Mas, afinal de contas, por que falar de Maria num blog sobre arte espírita? Faz parte de nossa promessa de pensar sobre o que poderia ser uma arte espírita nordestina. Faz parte de tentar compreender esse movimento tão singular que é o Espiritismo Brasileiro, com cores tão nossas.
Allan Denizard
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